De frente ao espelho, sentado numa cadeira antiga, caderno apoiado nas pernas, eu tento fazer um auto-retrato.
Olho minha cara, admiro o quanto de mim ainda não conheço. Olhar nos próprios olhos, ver as marcas que a idade trouxe, fixar a atenção nos novos traços de um homem, agora tão definidos.
O lápis na mão esquerda...
O papel ainda branco.
Lábios um tanto pequenos, olhos grandes, orelhas disformes, humano.
Perco-me, eu sei, por entre alguns traços que queria ter, ou entre outros que não queria. Fixo a atenção pra poder começar. Um traço apenas, um estopim, fagulha que faça recriar meu auto-retrato.
...
Surpreso, linhas correm de um canto a outro da folha.
Lentamente uma figura estranha nasce.
Mas não sou eu ali, desconfio.
Uma figura tão uniforme, clara, olhos penetrantes. Harmonia dos sentidos.
Em nenhum traço aquilo soava como espelho, mas confesso que gostei daquilo.
...
Diálogo:
Amigo - Nossa, tá lindo esse desenho... É igualzinho a você!
Eu - Jura? Eu não consigo me reconhecer em nada.
Amigo - Que isso... Tá idêntico, muito bom! Os olhos então, nossa, parece que estou olhando para você...
Eu - Mas e essa cara calma, esse semblante pacífico???
Amigo - Ué?!? Então! É você mesmo!!!
...
Incrível o quanto não nos conhecemos. E olha que nem falei da segunda camada...
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