Geralda era uma criança, cinco ou seis anos, acho.
Pobre, pobre de verdade, daquelas pobrezas doídas. Dona de uma magreza de dar dó, as pernas como gravetos, os olhos demasiadamente grandes.
Ela morava na roça. E era roça mesmo, não era fazenda ou sítio. Era chão de terra, casa de pau-a-pique, janelas de tramelas, rádio a pilha. Tudo revestido de um tom marrom horrível, sujo.
Mas Geralda trazia, junto àquela figura esquelética, uma linda cabelereira negra e nos olhos, ainda que esbugalhados, muita vida.
A cama onde ela dormia, com mais três irmãos - eles eram nove no total, mais o pai e a mãe - era feita com estacas fincadas no chão duro e retalhos de panos amarrados por entre as estacas, até que sustentasse o peso das crianças.
O pai vivia de pequenos trabalhos braçais: capinava, arava, colhia, ordenhava. Os irmãos mais velhos ajudavam. As meninas ficavam responsáveis pelo trabalho de casa, junto À mãe. Mulher naquela época não se afastava do tanque ou do fogão. Este, aliás, a lenha.
Não chegavam a passar fome, mas a comida nunca era farta. Geralda e seus irmãos eram magros.
Então Geralda e sua mãe, uma vez por semana, acordavam as quatro da manhã, caminhavam durante uma hora ainda sob a escuridão (ela me contou que quando a lua estava cheia, tudo ficava mais fácil...). Silenciosamente elas invadiam a roça vizinha.
Uma vez por semana elas iam, juntas, em silêncio, cúmplices, e pulavam a cerca de arame farpado.
Uma vez por semana Geralda e sua mãe roubavam mandiocas do vizinho.
E não pensavam em mais nada a não ser na água fervendo, na mandioca cozida, nas crianças felizes.
Talvez Geralda só percebesse que aquilo era errado quando, por descuido, ela pisava num galho seco que estalava e a mãe pedia silêncio.
De volta à casa, depois de nova caminhada de mais uma hora, Geralda nem se importava com o peso da comida nos ombros.
Os irmãos ali, esperando na soleira da porta, conferiam os sacos e tratavam de descascar as mandiocas.
Antes de prepará-las, os irmãos se abraçavam, agradeciam uns aos outros por aquilo, depois comiam.
Uma vez por semana aquela família dormia de barriga cheia. Felizes que só.
2 comentários:
Que saudades tenho eu desse bar...
saudade de puxar uma cadeira e ficar por horas sentada sem me preocupar com nada, apenas usufruindo da presenca dos velhos amigos.
Que saudades eu tenho desse bar, onde conheci pessoas que ficar'ao para sempre na minha historia. Pessoas com quem fiz descobertas, chorei, gritei, cresci.
Que saudades daqueles mesmos companheiros, das longas conversas, das doces confidencias...
Tenho saudades de vc...BAR DA VIDA.
Leticia Calhau
Ai, ai...
Meus amigos de bar... também tenho muitas saudades de vocês. Mas é uma saudade boa. Saudade de algo curtido, de algo bom.
Tenho estado afastada dos bares ultimamente... mas não há remorso, nem arrependimento, nem angústia... só saudades felizes. Uma delas é de vocês: Toni e Letícia.
Vocês não imaginam quanta falta fazem por aqui... não imaginam...
Grande beijo
Solange Nascimento
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