Porque tenho a impressão de só encontrar com pessoas que não quero ver? É só ter um assunto mal resolvido, uma pendenga qualquer, que pimba! Lá está o objeto do desafeto escondido atrás de uma esquina da vida.
E não adianta esconder-se ou esquivar-se, o sujeito sempre vai vê-lo. Você pode estar ruiva, de óculos escuros, ter empinado um pouco o nariz – e ainda assim ele virá com aquele velho clichê “você não mudou nada!”.
Dia desses encontrei com um deles. Chamarei-o de Pé Sujo, pra proteger sua identidade, ou para proteger a mim mesma, não sei.
Ele era apenas um cara com quem saí umas duas vezes – talvez até mais – e depois de uma noite nem tão boa assim acordei com seus enormes pés sujos bem perto do meu rosto! Como eram nojentos aqueles pés. Vesti-me, saí e nunca mais vi Pé Sujo.
Agora ele estava ali, na minha frente.
- Oi, você não mudou nada – disse
- Oi – respondi e pronto.
Imaginei continuar andando e fazer daquele momento uma lembrança desagradável. Mas Pé Sujo não estava satisfeito. Senti-o olhando nos meus olhos e fazendo a pergunta que eu tanto temia:
- Porque você nunca mais me ligou?
Deus! Porque tinha de ser tão direto?!? Eu só queria tomar um café a dois quarteirões da minha casa e agora estava tendo que me explicar àquele primata. Saí pela culatra:
- Você também não ligou mais – disse. Mas corei quando lembrei de ter visto algumas ligações não atendidas na secretária eletrônica...
- Mas eu liguei sim.
- É que faz tanto tempo – sabia que não era uma resposta, mas arrisquei.
- O que anda fazendo?
- O de sempre, trabalho e nada mais. Desculpa, estou indo tomar um café, tenho que ir – disse firme.
- Posso acompanhar você???
Silêncio total. Alguns muitos segundos depois:
- Bem, vai ser rápido mas... Ok, podemos ir – e fui. Contrariada, mas fui.
No caminho até achei Pé Sujo bem mais agradável. Trabalhava agora numa grande revista, mudara-se para Ipanema (embora não fizesse a mínima idéia de onde ele morava antes!), vestia-se incomparavelmente melhor. Vale até uma descrição do figurino para chegar à parte que mais interessa: vestia lindas calças jeans Levi’s, uma bata branca de corte fino e nos pés uma sandália de couro. E os pés? Deus! Eles eram inacreditavelmente lindos agora! E limpos...
O café virou um almoço, que virou um programa, que terminou na sua casa com outro café.
Depois de tudo feito vi-o mostrar os pés para mim com uma péssima dissimulação e tive vergonha. Será que em algum momento deixei ele perceber algo?
Trocamos telefone, algumas palavras carinhosas de reencontro e voltei para casa com a sensação de que havia me equivocado. Nem só de reencontros desagradáveis vivem as esquinas de uma grande cidade.
Mas estranhamente Pé Sujo não ligou mais.
E alguns dias depois percebi que realmente estava certa.
Pé Sujo já não era mais um desagradável e por isso estava fadado ao desaparecimento.
Um comentário:
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