5 de jul. de 2007

Era uma casa muito engraçada...

(foto - http://www.olhares.com/ Autor: Raul Coelho)
Nunca gostei de nada provisório.
Pra mim ou é definitivo ou não é.

E não é que eu seja um daqueles românticos que acreditam que tudo é eterno. Nada contra os românticos, mas também não sou assim.
Se acabar, ok. Então é tratar logo de ir atrás de outro definitivo, simples.

Preciso me explicar: o provisório me traz uma péssima sensação de adiamento. Se o trabalho é provisório, só até encontrar algo melhor, então pra que se envolver demais? Se o cara não é O cara, nada de apresentar a família (sexo casual é uma outra coisa, ok?). Se o apartamento é alugado, não enfeito.

E então vamos adiando a vida a espera da tal situação definitiva e nada de viver.
Sou a favor de entrar de cabeça, de se envolver, de tomar partido, de comprar briga. Em tudo, aliás.

Outro dia visitei a casa da família de um amigo. Coisa simples, família grande, casa com quintal daqueles que a gente não vê mais.
Meu amigo me contou, emocionado, quantas gerações haviam passado por aquelas paredes já fracas.
Ao entrar no banheiro, percebi que a fiação estava toda aparente, com emendos de fita, escoradas em pregos.
Então fiquei imaginando que a primeira geração a morar naquela casa provavelmente imaginou que aquilo era provisório, e deixou pra lá. Se era só uma situação passageira, para que gastar tempo e dinheiro escondendo os fios?

Mas o tempo foi passando e, para aquela família, a casa não foi provisória.

Hoje, provavelmente com a última geração dentro, a casa permanente é provisória de novo. E os novos moradores pensam: "para que consertar essa casa velha? Estamos aqui enquanto não podemos comprar coisa melhor."

E sem notar, a família nem percebe que o provisório nunca se torna definitivo.

Janete Clair

O olhor vê o que quer ver.
É isso. Hoje não quero mais pedir licença. Estou cansado de pedir desculpas até quando não faço.
Um amigo me chama de Janete Clair, diz que em tudo vejo uma história, uma sucessão de fatos fantásticos, vilões, mocinhos. Sou assim mesmo, pronto.

Gosto disso, das ilusões boas, dos encontros fantáticos, dos homens perfeitos, do filme imaginado, quadro a quadro, cena a cena, trilha musical, happy end. A fantasia é boa pra quem vive onde vivo, "a terra desencantada da falta desmedida de tudo" agoniza e faz doer, mas resisto.

Meu olho vê o que eu quero ver.
O cérebro maquina, contrói o cenário, chegam dois personagens, ambos reais (embora o segundo, coadjuvante, ainda tenha algumas características irreais). Dois homens, o coração dilacerado, um telefonema rápido, quase um tango. Final de tarde, o céu avermelhado, cheiro de fumaça no ar.
A cena corre, os personagens evoluem. O primeiro homem traz um ar confiante, o segundo acena. Agora é balé. Um terceiro personagem desdobra-se: atende o primeiro, retribui o aceno ao segundo, sorri, avermelha-se, como o céu.

Sem licenças, sem deslumbres apesar do filme ou de todo esse aparente delírio.
O bacana é saber voltar à tona quando é preciso. O bacana é saber separar aqueles dois homens, quando são reais.