25 de nov. de 2008

Pão-com-rosca


- Ei, isso não tá bom não...

Eu tenho um problema. Um problema grande.
Simplesmente não consigo dar crédito a pessoas que não sabem combinar roupa e que não sabem escrever.
Mas não é uma implicância só não, é um ponto de corte mesmo.
Pode me chamar de fútil, de cruel, mas gente! Sou assim, oras...
Dá pra imaginar você chegando no cinema com uma pessoa que insiste em colocar um casaco xadrez por cima de uma blusa preta de bolinhas amarelas?
Ou responder qualquer coisa que seja pra uma pessoa que manda um torpedo com um "vem MIM encontrar?".
Não.
A gente fica anos numa faculdade, lê um monte de coisas, se esforça pra acompanhar o mínimo que seja da crise mundial e o cidadão não se dá o trabalho de decorar meia dúzia de pronomes? Francamente...
E com a roupa é a mesma coisa. A gente se dá o trabalho de olhar no espelho, de folhear uma revista decente e, o pior, fica horas garimpando na Renner pra achar alguma coisa legal quando a grana tá curta e aí chega num encontro e dá de cara com alguém que veste calça cargo bege com camiseta cinza. Dá não minha gente, dá não.

Não tô dizendo que a pessoa precisa ser altamente letrada ou fashionista. Só precisa ter o mínimo de noção.
Na dúvida, troque.
Um exemplo? Minha tia queria deixar um bilhete pro marido deixar a luz da cozinha acesa, mas ficou em dúvida na hora de escrever "acesa". Inteligentemente ela virou o papelzinho e mandou: "Não apague a luz". Brilhante!
Com a roupa é mais difícil, eu sei. Costumo chamar essas combinações esquisistas de pão-com-rosca. Porque? Alguém acha que pão combina com rosca? Não, né? Então...
Na dúvida, vá de camiseta preta e calça jeans.
Me faça esse favor.

14 de nov. de 2008

Topa?

Volta moleque, mas volta logo porque eu posso encher o saco. Pára com essa besteira de espiar de canto de olho porque eu olho, eu continuo olhando. Volta moleque, que sinto falta das tuas camisetas modernas, dos teus cachos rebeldes. Escreve pra mim meia dúzia daquelas letras que eu me derreto, juro que derreto.Volta moleque que sou capaz de escolher você, só você, e sou capaz de usar aquele nariz de palhaço, mas não pra sempre. É que já cansei de cortar caminho, cansei de falar baixo, de esticar o pescoço pra te achar. E eu tô puto porque apaguei seu nome do celular e aí fico achando que você pode ter feito o mesmo, porra, isso dói moleque. É que ensaiei tantos versos, roubei tanta flor e agora meu peito tá tão cheio deles que tô ficando sem ar e eu não sei por que não deságuo. Então você tem que voltar. Volta moleque. Não pensa muito não. Não pensa porque a vida é assim mesmo, a gente só precisa juntar a tua aquarela com meu pincel. E aí a gente pinta aquela praia pra gente correr, brincar de amor. Vem logo que perco até o medo de parecer ridículo. Volta moleque, pode voltar assim mesmo, não precisa decidir nada não. Posso ser seu psicólogo, sua academia, seu coral, me rouba logo porque posso ser o seu dia, inteiro, todos os seus dias. Mas volta logo, moleque, porque eu posso encher o saco.
Aí fudeu.


Tutti e Arisco

Quando eu era moleque, por volta dos 10 anos, ganhei dois pintinhos. Na verdade eu ganhei um e minha irmã, que devia ter uns 5 anos, ganhou outro.

Os danados dos bichinhos eram lindos demais! Me lembro até hoje do meu pai chegando em casa com uma caixa de sapatos toda furada e mostrando pra gente aquelas duas coisas amarelinhas encolhidas num canto da caixa!

Eles foram batizados de Tutti e Arisco, não me lembro bem o porquê.
A única coisa que lembro é que por um bom tempo aqueles dois pintinhos foram a diversão da casa. Até banho a gente dava. E eles eram super comportados.
Lembro que a gente colocava os dois bichinhos em cima do skate, amarrava um barbante e saía puxando pela rua! E eles ficavam ali, quietinhos, aqueles pintos educados.

O problema é que os pintos cresceram, obviamente.
E viraram dois frangos horríveis, de cor branca-amarelada, que fediam todo o terraço da minha casa (nessa época eles já se recusavam a tomar banho). E pra nós, eu e minha irmã, aqueles bichos medonhos nem de longe lembravam nossos pequenos e singelos pintinhos!

Até que um dia, voltando da escola, minha mãe nos deu a triste notícia de que Tutti e Arisco tinham fugido. “Eles saíram voando pela janela”, insistia a minha mãe. Não me lembro de ter chorado, mas a tristeza daquele dia eu recordo bem...
A nossa tristeza só diminuiu quando a minha mãe falou que, para compensar a perda dos bichinhos, ela tinha feito a nossa comida favorita: frango! E a gente aceitou feliz, comeu e lambeu os beiços!

Ai que saudade dos meus tempos de criança! A inocência ameniza tanto sofrimento...

(Só depois de muitos anos minha mãe teve coragem de dizer que naquele dia almoçamos o Tutti e o Arisco. Ela dizia que esperou o tempo necessário para que fôssemos maduros o suficiente para rir ao invés de chorar).

13 de nov. de 2008

12 de nov. de 2008

The shame is manifest in my resistance...

I would've warned you, but really, what's the point?
Caution could, but rarely ever helps
Don't be down when my demeanor tends to disappoint
It's hard enough even trying to be civil to myself




(Fiona Apple, "To your love")

11 de nov. de 2008

Rapunzel


Nunca entendi muito bem a história da Rapunzel...
Porque ela não usou a suas tranças pra fugir, por si só, do castelo onde estava apriosionada?

Mas agora entendo perfeitamente: a mocinha tinha era medo de enfrentar a realidade. Aprisionada ali, na sua torre, longe do mundo, ela estava imune a tudo e a todos. Assim, podia culpar a solidão e a bruxa por todos os seus fracassos.

Rapunzel preferia o seu castelo e o mundo que criou para si à aventurar-se pelo mundo real.

10 de nov. de 2008

Mosquinhas espertas!

Sabia que algumas espécies de insetos vivem somente 24 horas?

Agora, se esse bichinho tivesse um mínimo de consciência, imagina como seria a sua relação com o tempo!
Certamente ele não seria como nós, não dispensaria um segundo sequer de sua preciosa e efêmera vida.
Ele não passaria mais de dois segundos escolhendo o que comer, menos de um segundo escolhendo com quem conversar e duvido que passasse qualquer fração de segundo aturando o que lhe não lhe fizesse bem ou que não lhe trouxesse absurdo prazer.

Deve ser por isso que esse insetinho tão simpático dedica-se quase que exclusivamente a reproduzir-se durante suas longas 24 de horas de vida.

Ah, então me deixe ser essa mosquinha!
Não precisa de mais nada além de nascer, trepar e morrer.
Assim mesmo, nessa ordem.

(Tá certo, já li em algum lugar que os homens e os golfinhos são os dois únicos animais que fazem sexo por prazer, mas vá lá, não sou biólogo e portanto não preciso confirmar a minha teoria furada...)

7 de nov. de 2008

O que eu não sou...


"Eu não sou poeta, nem quero ser
A canção eu fiz pra sobreviver
Coração aperta, canto pra respirar
Toco minha viola pra poder sonhar

Eu não quero nada que faz doer
Quero amar o mundo, quero amar você
Quando você não está eu vou tocar tambor
Extraviar no pulso toda a minha dor

Um dia o amor acaba
Invade e a dor deságua
Transborda a minha alma
Vazia está agora

Eu não sou maluco nem quero ser
Mas a noite passar e eu não vou dormir
As flores me agradam tentam me colorir
Toco uma toada pra poder te ouvir

Eu não sou ateu nem quero ser
Deus te abençoe, rezo por você
Eu vou tocar a flauta pra despedir
De longe minha alma vai velar por ti

Um dia o amor acaba
Invade e a dor deságua
Transborda a minha alma
Vazia está agora"

(Música: O que eu não sou/Chicas)

6 de nov. de 2008

Mr. Clumsy

(Fonte imagem: Google)

Desde menino eu sempre fui mega atrapalhado.

Minha mãe dizia que era por eu ser canhoto, mas nunca acreditei muito nisso.


Já me estabaquei no chão nas Barcas, já perguntei de quantos meses estava uma mulher que só era gordinha, já falei mal de irmão de amigo pro próprio amigo, já entrei em carro errado esperando carona, já fui pra festa errada e só percebi duas horas depois, já quase quebrei a roleta do metrô porque ela, estranhamente, não aceitava o crachá da minha empresa, já comi em pizzaria chulé jurando que estava na Pizzaria Guanabara e já quase coloquei shoyo no suco de uva.

E eu ainda tenho outro defeito: esqueço o nome de tudo. Pessoas, lugares, músicas, filme. Meu telefone então, esse eu nunca sei.

Eu achava que com o tempo isso ia melhorar, mas não aconteceu. Pelo contrário, acho que só piora. Agora tô errando até as palavras: em vez de dizer o portão tá fechado, digo o “fechão tá portado”. E nem percebo!


Aí fui falar com a proprietária do meu apartamento que eu queria tirar o buffet do banheiro porque ele não servia pra nada, só ocupava espaço. Ela não entendeu, e eu tive que explicar: buffet, aquele negócio tipo vaso sanitário que a gente lava a bunda... Ela perguntou: bidê?

Era.

Era bidê.


Outra coisa muito maluca é a minha relação visão/audição. O problema é que tenho 5 graus de miopia e não vivo sem lentes de contato, nunca. E aí, quando eu tiro as lentes pra dormir ou pra qualquer outra coisa, além de cego eu fico completamente surdo. Vai entender...

Minha terapeuta diz que é porque o meu cérebro sempre está a mil por hora e aí eu não dou conta de verbalizar tudo, o que acaba causando essa tempestade verborrágica. Mas não sei não, ando meio desconfiado dela. Acho que é porque até hoje não sei se ela chama Andréia ou Adriana, sempre confundo esses nomes.


Um amigo natureba falou que eu devia comer mais banana, por conta do potássio, ia ajudar com as tais sinapses e tal, e que isso melhoraria a memória. Mas aí eu fui até o mercado e comprei uma dúzia delas. Só que comprei maçãs, eu jurava que era isso que meu amigo tinha recomendado...


Confesso que já tô me acostumando com essa loucura toda. E ando desenvolvendo técnicas ótimas pra não errar mais. Quando anoto um nome no celular, por exemplo, sempre coloco uma referência pra não confundir. Assim: André amigo Eduardo. Mas quem é Eduardo mesmo, meu Deus?!?!

E como não tem jeito, nem remédio, vou levando a vida assim mesmo.

5 de nov. de 2008

Distante das cercas de amor


(Inspirado na música "Tudo vai ficar bem", banda Cof Damu)



Lá no alto daquele monte, querido
Tem uma casa que poderia ter sido nossa
(ainda bem que você não me escolheu)
Porque a casa não quis sequer abrir as portas
Para o nosso caso entrar.

Antes que a fizéssemos ruir
(aquela casa que poderia ter sido nossa)
Tivemos certeza que era ele
(aquele sentimento que a gente nem soube o nome)
Quem deveria partir sem voltar mais.

“Ainda que nas tardes ela possa escutar
(em suas paredes o que ele a fez sofrer)
Não teve medo de deixar assim
O vento entrar
Pela janela de estar”

Tudo vai ficar bem.
Não existe fim.

4 de nov. de 2008

A dor que inspira



Nós não fomos ao cinema
Nós não jantamos juntos
Nunca tomamos um vinho
A gente não saiu pra dançar
Não fizemos aniversário de namoro
Não trocamos cartões
Não fizemos amor
(sonho conta?)
Não chegamos a dizer “eu te amo”
Não ousamos o “gosto de você”
Nem beijo a gente deu
Não andamos na Lagoa
Não tivemos um cachorro
Não viajamos juntos
Não nos prometemos nada
A gente não dormiu junto
A gente não acordou junto
E eu nem conheço seu corpo
Não nos falamos por telefone
Não tivemos apelidos carinhosos
A gente nunca se deu boa noite!
Não sei qual o seu cheiro
Não conheço seu mau humor
Nem brigas a gente teve
Tampouco reconciliações
Nós não vimos juntos um dia de chuva
Não fomos à praia
Não tomamos chopp
Não tivemos um único amigo em comum.

Agora me diz:
se nunca tive
porque dói tanto
agora que ainda
não tenho?

A linha invisível que nos separa

O que nos separa tem nome
O que nos uniu, não.
O tempo que me fez ser quase seu foi curto
O que levará para curar, não.
Os seus recuos, estes foram muitos
As tentativas, nenhuma.

E ai a gente, tortuosamente,
Acabou fazendo uma história
Que nasceu de um sonho
Mas sucumbiu à realidade.

Triste realidade.




Agora eu só tenho o seu nome
E uma dúzia de músicas
Mas eu já tive mais
Eu quase tive
Antes de deixar escapulir por entre os dedos.

Agora eu tenho só aquele sonho
E uma vaga lembrança do calor
Mas eu tive mais
Eu quase tive
Antes de ouvir você dizer que prefere manter-se acordado.

Agora eu tenho sua vontade de ver meu sorriso
E quase nada de força
Mas eu tive mais
Eu quase tive
Antes de você olhar meus olhos e não enxergar o fundo.

Agora tem essa linha invisível entre nós
E essa impermeabilidade forjada
Mas eu tive mais
Eu quase tive
Antes de entender que você não deseja mais que o “quase”.


29 de out. de 2008

Reservado




quando vi eram só seus pés
e um par de tênis que só você sabe usar
quando percebi era um balé de sombras
e um cheiro de desejo no ar
quando venci meus medos era o toque
e um calor sentido com a ponta dos dedos
quando permiti era então a sua vez
e o toque que me deu seu calor

mas acabou ali mesmo
uma frieza de mámore entre nós
um carinho que não pôde ser gasto
um afago que nem houve
respiração que nem se sentiu

quando voltei eram suas palavras
e a precisão que brotava delas
quando propus,era minha a dúvida
e o seu certeiro e pontiagudo não
quando fui embora era só você
e milhões de pensamentos que não me deixavam
quando eu deixei aí já era noite
já era sono, já era sonho

bem como a gente propôs.


24 de out. de 2008

Auto-ajuda




Hoje não há tédio nenhum, mesmo pra um domingo chuvoso.


Agora então, já quase no final do dia, onde a companhia é de meia dúzia de músicas emotivas, três latas de cerveja perdidas na geladeira e um maço de cigarros, há uma imensa paz pairando.
Estou completamente ciente de mim, como se tivesse acabado de sair da alta de uma terapia. Não há mais nó na garganta, não há mais pendências, pelo menos nenhuma comigo mesmo. Talvez ainda haja uma ou outra, é fato, mas essas me parecem perfeitamente resolvíveis, a curto ou a longo prazo, não importa.
E se me perguntarem, não há razão ou segredo algum pra isso.


Mas olhando agora, vejo que as pessoas insistem em se apegar aos fracassos, às tristezas e aos domingos chuvosos. Eu mesmo sou assim quase sempre.
Hoje não, hoje eu esqueci o celular de lado, desconectei a internet, fiquei comigo mesmo, vi fotos antigas, li o jornal inteirinho e senti cada segundo do dia.


A amiga querida ligou cedo, o amigo especial chorou no almoço, o jovenzinho promissor mandou torpedos sensacionais e eu acabei achando meu lugar no mundo.
Por quê? Porque hoje eu senti que quando a gente vive cada segundo, quando a gente se entrega ao presente e deixa de lado essa babaquice absurda de querer adivinhar o futuro, aí é que a gente vive. E olha que sou capricorniano!


A gente tem mania de atribuir nossas felicidades e infelicidades a outras pessoas. No trabalho sempre tem um sacana que quer puxar seu tapete, no amor tem sempre aquele insensível que não entende a grandeza do seu sentimento. Bobagem. Não há ninguém no mundo que nos sabote mais do que nós mesmos.
Pro amigo que chorou e pra mais um milhão de pessoas é essa a resposta: não há maré ruim, na maior parte das vezes é só tristeza forjada por nós mesmos pra justificar algumas coisas que queremos, mas não temos coragem de admitir. A gente vale muito mais do que divulga (eu sei, há exceções, não as desconsidero...).


Quando termina um relacionamento, por exemplo, a culpa é sempre do outro. Mas será que não é nossa mesmo?
No meu caso é. Eu é que fui burro em não perceber os sinais do outro, eu é que não quis enxergar a relação se evaporando e, quando o outro resolveu sinalizar, só aí eu gritei. Se tivesse gritado antes, nada disso teria acontecido.


De uma vez por todas é preciso compreender que a única coisa que nos acompanha durante toda a vida é nossa própria consciência. Só a ela devemos total fidelidade.
A gente passa tanto tempo tentando agradar aos outros, pedindo desculpas, mandando flores, comprando cartões de aniversário pros amigos, querendo parecer vencedor pra família.
E pra nós mesmos, o que fazemos? Quando é que pedimos desculpas a nós mesmos por termos nos machucado, por ter permitido se ferir pelos outros, por ter colocado outras pessoas em primeiro plano?


É preciso encarar de frente os domingos chuvosos, os sábados sozinhos, o telefone que não toca. Sorria disso, não chame de solidão, sinta, deixe o relógio passar, viva. Fique com você mesmo, se reconheça, se conheça.
É assim mesmo, é a vida, é a rotina, não há nada de errado comigo, não há nada de errado com ninguém. Somos só diferentes e viva a diversidade.
Amanhã você se apaixona de novo, amanhã você é reconhecido no trabalho, amanhã sua família vai fazer a maior propaganda das suas vitórias.
E depois de amanhã você leva um pé na bunda, começa a achar que ganha pouco pelo tanto que trabalha, ouve sua irmã te chamar de deslumbrado.
Mas os dias passam, sempre, é um ciclo, os livros de auto-ajuda têm razão! Mas só nesse aspecto, por favor.


No próximo sábado pode ser que o celular não pare de tocar, que todos os amigos queiram a sua presença, que surjam mil encontros e que você descubra um novo amor na banca de jornal em frente à sua casa. Pode ser que faça sol no domingo e que você vá a praia pela primeira vez com seu novo amor!
A gente só não pode desconsiderar os domingos chuvosos.


19 de ago. de 2008

to me

Foto: Michelle Reis


Nothing really matters
Love is all we need
Everything I give you
All comes back to me

14 de ago. de 2008

Respire











Só você é capaz de suscitar tanto em mim só você é capaz de me tornar esse turbilhão essa voracidade essa vontade de correr e escrever sem pontuar porque você não pontua nunca! só você me desperta de madrugada me faz passar uma duas noites em claro tendo pesadelos horríveis e mesmo assim só você é capaz de desfazer todo mal com um bom dia porque só você e aí só você mesmo ainda é capaz de me dar arrepios no bom e no mal sentido de me fazer ir ladeira abaixo e parede acima só você sabe me fazer gritar e calar nem sempre na hora certa mas sempre com a mesma intensidade.

Respire

Só você bate a porta e abre de novo com a mesma naturalidade de quem nunca saiu só você sabe não atender quando ligo e responder com declarações de amor dois dias depois só você sabe sorrir com essa displicência e descompromisso e esse descompromisso que só você tem sabe como ninguém me deixar de ponta cabeça pensando onde errei onde erramos onde isso vai parar?

Respire
Respire


E aí você insiste em ir embora.
Você que não sabe colocar nem vígula, agora insiste em colocar um ponto final.


Mas eu prontamente aceito.
De fato eu já estava ficando sem ar...

9 de jul. de 2008

Dos amigos trigêmeos separados, coitados...

B diz:
Não se explique (pq não precisa). Não tente discutir a relação (a menos que o queira de volta). Dê tempo ao tempo (que ajeita tudo). Me amarrota que eu tô passada...

F diz:
saia daquele cafofo porque ele está virando aquele armário repressor do qual você já saiu há anos.

T diz:
Agora me digam, esse sujeito!Fiz errado?

B diz:
todos saem dessa rebordosa depois!

F diz:
o silêncio, nesse caso, acaba sendo a conseqüência de um ato de fineza. Não responde.

T diz:
de uma certa maneira, as coisas estão absurdamente claras agora. Estou me sentindo liberto, sabe?

Tic tac


onze e meia, manhã ainda.
invento, passo, repasso, agito.

F5, refresh, verificar e-mail
alt+tab pra ver outras páginas
outras vidas
mas eu volto
volto constantemente
estou sempre voltando
mas não encontro suas letras
elas não vêm
você não vem


onze e trinta e cinco, manhã ainda.
hoje não vou dar o primeiro passo


onze e trinta e sete.
três vezes.
o computador
o relógio
o celular
quanto tempo,
quantos tempos!
ainda nada.


no final,
não antes de nova tentativa,
insisto
invisto
desisto


meio dia, já tarde.
muito tarde.

3 de jul. de 2008

Boa pontaria


Rio de Janeiro, 03 de julho de 2008


Meu amor,


Você nem sabe quanta munição eu tenho agora
Passaram-se muitos meses, quantos foram, aliás? Vinte? Mil deles?
E você, meu amor, que pensa que eu nao te conheço, que não te vejo por trás dessa máscara.
Todos usamos máscaras
(você me vê por detrás da minha?).


Você nem sabe quanta munição eu tenho meu amor,
mas não vou atirar, não mais.
Não quero tentar acertar você
muito menos atirar no meu próprio pé
(sim, existe esse risco).


Você nem sabe quanta munição eu tenho agora, meu amor.
E o quanto seu alvo é fácil.
Mas, sabe, querido, já atirei demais em você
A brincadeira acabou perdendo a graça, é isso...
(você disse que já era hora, lembra?)


Fique em paz.

Toni.

17 de mai. de 2008

Amores


Desde pequeno eu sou assim. Adoro sapatos.

Gosto de todas as cores, de todos os modelos, tênis despojados, sandálias abertas, não faço a menor distinção. Tem que me agradar, e pronto.

Não precisa nem ser confortável, sapato a gente amacia com o tempo. Você usa a primeira vez, os calos castigam. Coloca um band-aid! Ele vai cedendo, tomando a forma do seu pé, e ali em cima de onde era um calo a pele fica dura, rígida, difícil machucar de novo.

E quando eu tenho um sapato novo, nossa! Eu quero mostrar pra todo mundo, tenho orgulho, desfilo com ele pra cima e pra baixo, uso todo dia, toda noite, nunca canso.


Mas os sapatos, esses têm cansado sempre.
Não resistem, pobres sapatos.
Eu ainda tento, remendo, mando reforçar as solas, o sapateiro reforça as costuras, mas uma hora não dá mais.
Aí os sapatos, inevitalmente, têm que ir pro lixo.

Entre um sapato e outro, acabo passando longos tempos descalços.
Os pés ficam livres, as marcas dos calos somem (algumas, mais profundas, estas não somem).

Mas não tem jeito, sou assim, desde pequeno.
Adoro sapatos.

4 de mar. de 2008

Tramas curtas, versos curtos, multicor. Hoje não...


não me tente
não lance sobre mim essa sua mão pesada
esse olhar de quem não sabe o que diz
não me convide para seu covil
(lá nunca encontro repouso, percebes?)


nem tente
me prender em suas tramas obsoletas
tramas de fios imperfeitos
mas de cores múltiplas e atraentes.
(tão velhas de sentido essas suas tramas, percebo?)


não me tente
nem tente
(pelo menos não por hoje)






20 de fev. de 2008

Outras palavras, novas fotos.

Crédito da foto: D DI Arte
Disponível em: http://olhares.aeiou.pt/plastic_wind/foto1702566.html



sensorial


obturação, é da amarela que eu ponho.
pimenta e cravo,
mastigo à boca nua e me regalo.
amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de música de presente,
conhecer vários tons pra uma palavra .
espírito, se for de deus, eu adoro,
se for de homem, eu testo
com meus seis instrumentos.
fico gostando ou perdôo.
procuro sol, porque sou bicho de corpo.
sombra terei depois, a mais fria.

Adélia Prado





10 de fev. de 2008

No ônibus


Encontrei aquela loira de novo hoje no ônibus. Era a sexta vez naquela semana, o vigésimo dia naquele mês.
Tinha um lugar vago bem do lado dela, meu Deus! Era o meu dia, pensei. Sentei.
Uma boca linda, vinte e poucos anos, acho. Cabelinho lisinho, perfume doce, uma coisa.
Vinte minutos era o tempo entre minha casa e o trabalho e era tudo que eu tinha pra poder sair dali ao menos com o telefone dela.

“Oi, vamos sair hoje” me pareceu direto demais. Desisti.

“Oi, nossa! É a sexta vez que te vejo essa semana”, psicopata total.

“Que boquinha linda”, garanhão.

“Oi, qual o seu nome”, tá certo, comum demais, mas vale.


- Oi, qual o seu nome?, eu disse.
- Vanessa.

E ponto, ela não disse mais nada, não perguntou o meu, não sorriu, só respondeu, virou a cabeça pro lado, abriu a janela, conferiu a hora no celular e mais nada.
Pensa, cabecinha, pensa! Eu fiquei ali, dez segundos, pensando na coisa mais original, engraçada, arrebatedora, comovente e espirituosa que eu pudesse dizer. Nada.

Então ela me olhou, de cima a baixo, soltou uma respiração mais forte, daquela que faz você ficar ainda mais na dúvida. Podia ser: “nossa, que babaca”, ou “nossa, hoje é meu dia de sorte”, 50% de chance, ganha ou perde, pega ou larga.
Eu mesmo resolvi conferir: o meu zíper fechado, ainda bem. Barriguinha no lugar, roupa limpa, nenhum respingado, café, pasta de dente ou sei lá o quê mais, mancha nenhuma.

Será que ela era uma daquelas excêntricas milionárias que gostavam de andar de ônibus para se sentirem vivas? Daquelas que andam com o cachorrinho poodle dentro da bolsa, dão filé mignon pra eles no almoço e carne de pescoço pra qualquer outro macho?
Olhei bem, a bolsa era pequena, estava fechada, nenhum cachorro à vista.
Será uma daquelas modelos, lindas e bem pagas, passaporte com carimbos do mundo inteiro, milhões na conta, muitos nomes da agenda? Não, a perna era grossa demais pra isso e tinha uma pequena espinha na bochecha direita dela. Modelos são magricelas e têm pele de boneca, eu acho.
Podia ser casada com um daqueles saradões de academia, barriga tanquinho, tatuagem tribal, carro envenenado... Sem aliança.
Será que ela me achou um pobretão só porque eu estava andando de ônibus? Vou balançar a chave do carrro. Pára com isso, tiozinho. Deixar cair a carteira com dinheiro? Não, não, absolutamente não.

Por que diabos aquela mulher não me correspondia? Parecia uma esfinge me olhando, “decifra-me ou eu te devoro”, e eu era o prato do dia.
A cena mais patética que qualquer filme poderia apresentar, essa era a situação: um segundo de “qual é o seu nome” versus quinze minutos de cara de otário. Dez a zero pra mocinha.
Mas ela, então, despretenciosamente saca um espelhinho da bolsa, passa mais batom vermelho na boca, ajeita o cabelo, guarda tudo na bolsa, levanta e pede pro motorista parar no próximo ponto.
Vanessa! Linda, calça jeans apertada, carinha de menina, atitude de mulher.

O ônibus pára, ela caminha como quem não tem pressa, desce as escadas fazendo barulho, chega à rua.

E quando desce, Vanessa olha pra mim.

Lá de fora Vanessa olha pra mim, Vanessa sorri.

Sorrio de volta, chego perto da janela.

Vanessa aproxima-se.
- E o seu nome? Você não disse – Vanessa diz sorrindo.
- Fábio.

Mas o ônibus segue.

É sexta-feira Vanessa, é sexta-feira.

(na segunda pergunto se você quer casar comigo, juro que pergunto.)




29 de jan. de 2008

Borboletas no estômago


Eu sinto borboletas no estômago.
Eu cruzo retas paralelas antes que cheguem ao infinito.
Eu desafio a física
Eu desafio a razão, a geografia, a tecnologia.
Porque?
Porque eu sinto borboletas no estômago.

Há um novo cenário
Há um ilustre desconhecido
Há tantas entrelinhas

Há vários novos atos
Atos inéditos
Inédita parceria
Há um céu azul por detrás do cinza.

Há uma nova composição
Letras escritas em pares
Segunda pessoa do plural
Apenas
Há uma melodia escrita a duas mãos

Você já parou pra pensar em quantos passos deu na vida?
Um dia - mesmo que seja em seu último brilho - você será achado
Valemo-nos do que temos!
Bom dia! O que há de bom hoje?
Desnudo-me e desabafo

Agora são dois! Felicidade em dobro
A margem não continua mais lá, é avenida principal
Algo bom irá acontecer
A palavra não mais deriva da raiva

E se percebesse agora que este discurso não tem fim?
Impossível qualquer controle sobre as emoções
Quero novos duetos para as velhas doces cantigas
Ao seu lado resolvi criar meu rancho
Mesmo em excesso não me cansarei de desejar

O que faço é lhe contar o que sinto nas entrelinhas
Quero seu sorriso, sua voz marota e seus abraços fortes

Talvez um pouco além do que imaginava

É assim que se cresce, é assim que se evolui?

Não sei

Insisto

Quero
Desejo tanto, tanto e tão simplesmente!

Reconheces?
Misturadas assim
Suas letras e meu encanto
Têm o tom exato,
fazem música,
inspiram cenários perfeitos.

Com borboletas,
no estômago.




26 de jan. de 2008

Ao ilustre desconhecido.



Dois...
Apenas dois.
Dois seres...
Dois objetos patéticos.
Cursos paralelos
Frente a frente...
...Sempre...
...A se olharem...
Pensar talvez:
“Paralelos que se encontram no infinito...”
No entanto sós por enquanto.
Eternamente dois apenas.
(Pablo Neruda)

23 de jan. de 2008

Paradoxo


Vivemos mesmo num constante paradoxo.
Enquanto você se esforça para chegar até as ruínas,
eu luto para deixá-las pra trás.



"Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço."
Clarice Lispector



21 de jan. de 2008

Eu sou meu próprio vilão!


Eu sou meu próprio vilão.


Foi ontem, e eu entendi.
Segundo o dicionário, indivíduo desprezível, torpe.
Mais ainda, geralmente o vilão é uma figura ardilosa, que utiliza suas habilidades com a intenção de prejudicar alguém, normalmente o protagonista.

Mas eu também sou protagonista nesta história.

Explico já...
Em toda história que se preze, é de praxe que, para ter um final aceitável aos olhos do publico, o vilão tenha seu plano arruinado de forma heróica pelo personagem principal.
E foi aí que entendi, eu sou mesmo o vilão da minha própria história, esse romance fajuto.
Explico mais! A mim não restou o final feliz, a mim restou apenas ter meus planos arruinados de forma heróica pelo personagem principal (nesse caso, eu mesmo também).
Difícil de entender?
Não mesmo.
Se eu fosse tão somente o mocinho, não ficaria eu com as honras e méritos de ter derrotado o vilão? Não ficaria eu gozando do final feliz? Do amor correspondido sem medida? Das falhas todas perdoadas? Dos deslizes todos esquecidos?
Mas não, amigos...
A mim restou a derrota, amarga derrota. E quem é derrotado no final? O vilão, obviamente. Entendem a confusão?

Talvez essa história é que tenha saído um tanto quanto difícil demais. Talvez não houvesse mesmo maneira de se chegar ao final feliz. Talvez os outros personagens tenham dificultado a atuação do mocinho, talvez até tenham facilitado a ação do vilão – eu, em ambos os casos.
Talvez tudo isso não seja um filme, talvez seja um seriado. Talvez essa ainda seja a terceira de seis temporadas. Talvez seja necessário aguardar, dar espaço para o crescimento de outros personagens.
Talvez esse seja mesmo um filme, daqueles modernos, mocinho e vilão trocando o tempo todo de papéis, final feliz que nada, surpresa geral na platéia!

Talvez, e essa me parece a alternativa mais sensata, tudo isso nem tenha chegado a virar filme mesmo. Talvez não passe de um roteiro bobo, escrito à duas mãos, esquecido numa estante qualquer, esperando alguém que saiba dar um desfecho digno. E com final feliz.

9 de jan. de 2008

Devagar...



(Rodrigo Maranhão)

Devagar
Esquece o tempo lá de fora
Devagar
Esqueça a rima que for cara.

Escute o que vou lhe dizer
Um minuto de sua atenção
Com minha dor não se brinca
Já disse que não
Com minha dor não se brinca
Já disse que não.

Devagar, devagar com o andor
Teu santo é de barro e a fonte secou
Já não tens tanta verdade pra dizer
Nem tão pouco mais maldades pra fazer.

E se a dor é de saudade
E a saudade é de matar
Em meu peito a novidade
Vai enfim me libertar.


Devagar...