29 de dez. de 2007

Falta muito ainda.

O que ele imaginou encontrar quando chegou em casa?
Um cartão de Natal? Um recado na geladeira? Uma mensagem na secretária eletrônica?
Ele imaginou muitas coisas.
Só não imaginou não encontrar nada.

Já devia saber, tanto tempo de espera.
Mas foi traído pelo espírito natalino, pela proximidade do fim do ano, do início do outro.

No reencontro, a saudação não foi além de um frio abraço.
Mera formalidade.
Aquele gosto amargo na boca, velho conhecido gosto amargo.

Depois vieram as explicações à beira da cama. Ele desarmado, o outro duro.
O toque amigo na perna causou desconforto.
O outro não deseja mais ser tocado, ficou claro.
Ele insiste, abraça forte no final das amenidades.
O outro, atordoado, faz um carinho na cabeça dele.
Mas o carinho era só o atrito das mãos nos cabelos. Só.

No café da manhã, os amigos à mesa.
Quando o outro pronuncia o nome dele, diz em russo.
Ele não reconhece, ele não está convencido, ele acha até graça. Mas retira-se.
E quando retira-se, ouve o outro falando de novos (?) desejos sexuais e cavanhaques.

Então ele enfim entende: falta muito ainda.

8 de dez. de 2007



Na minha gramática, amor e concessão são sinônimos
na minha gramática 'se' não começa frase
na minha gramática, separação é certeza

na minha gramática, dor é só de barrriga
na minha gramática, ponto é só de ônibus
na minha gramática só existe a primeira pessoa do plural

na minha gramática, paz é sinônimo de música
diversão sinônimo de inteligência
amigo sinônimo de certeza
aliás, não existe a palavra inimigo
não na minha gramática.

O problema é que minha língua é ingrata,
e na minha gramática,
há um capítulo inteiro só de exceções.

6 de dez. de 2007

Fechado


A venda fechou.
Não tem mais bala, não tem mais suco de laranja, não tem bolo de banana.
As portas foram descendo e quando perceberam... A venda fechou!
E não é reforma, não senhor.
Fechou mesmo.

E só quem chora é a criancinha, doida pelos doces.
Porque os donos, estes querem partir pra outros negócios.
Um deles vai acabar buscando outro sócio, ou outros sócios, já percebeu que prefere assim.
O outro talvez não, vai sozinho mesmo, diversificar os negócios, expandir os contatos.

Não há como não sentir um pouco de vazio ao ver a porta fechada, a venda parecia tão alegre em alguns momentos. Colorida, divertida, até música a venda tinha.
Mas se você chegar perto, talvez se você puder grudar os ouvidos na parede e então conseguir ouvir lá dentro, aí vai entender que apesar do silêncio, está tudo em paz.