22 de out. de 2007

Meninas minhas

(Livremente inspirado na poesia de Chico Buarque "As minhas meninas", para a peça as quatro meninas)


Foram as duas
Duas meninas minhas
Foram embora
E se foram meninas mesmo
Agora mulheres,
minhas

A que nasceu comigo nem olhou pra trás
Desapegada como ela só!
Cresceu tanto
Que na volta parecia outra
(Mas só nos dois primeiros segundos, ela disse)

A outra que veio depois
Quase não foi.
Aliás, ia, não ia, foi.
Tão doído que faltou até um adeus
(ela nem sabe que eu até tentei)

Duas meninas,
Opostas demais
Duas meninas minhas
Iguais só de lindeza
Tão longe as meninas...

Foram embora
Duas mulheres
Levaram uma parte grande
De mim
De uma história
Lindas.

Sinto o tempo parado
À espera destas meninas
Minhas

Mas elas não voltam, não mais
Que jeito?

(Vou atrás das minhas meninas)

18 de out. de 2007

Adélia Prado


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.