27 de jul. de 2006

Sombras e abraços.


Ontem eu só queria proteção (hoje ainda quero).
Era só um desejo de estar entre seus braços (e quem saber chorar um pouco).
Mas você reclama, sempre reclama.
Digo que está bonito, que a roupa te vestiu lindamente (e você? você olhou-me como um espelho...).
Não posso dizer que estou triste, você me diria que eu sempre reclamo da vida.
E se realmente reclamo da vida você não ouve, apenas retruca que a sua também não é fácil.
Mas não é isso, meu bem...
Se for sempre assim, não quero.
Pra mim o que mais emociona é ser entendido por um olhar, uma palavra atravessada. Pra mim o que mais arrebata é o crédito quando não há nada que possa comprová-lo, além do amor.
Ontem eu só queria proteção (hoje ainda quero). Sentir você fazendo sombra sobre minha cabeça. O sol anda forte nesse inverno...
E você me responde que sabe o que está fazendo.
Mas não é isso, meu bem...
Deixe-me um pouco olhar você (será que também consegue ser meu espelho?).
Se não for assim sempre, não quero.

12 de jul. de 2006

Letícia!

Confiram: http://mosaicodedeus.blogspot.com/


Leticia, essa mulher que brinca de ser menina. Ou seria só uma menina que brinca de ser mulher?
Porque Letícia é assim, todas numa só.

Acorda querendo salvar o mundo e no caminho decide tentar ser mais egoísta. Mas sente-se culpada, quer continuar carregando a fantasia de certinha (Letícia entrou na comunidade do Orkut “Cansei de ser certinha”!).

Letícia coleciona vitórias, mas vive sempre na luta. Porque ela tem algumas derrotas, sim, mas Letícia sempre enxuga as lágrimas quando acorda, antes de querer salvar o mundo.

Letícia, quando é menina, fica vermelha se ouve seus amigos falando de sexo. Mas quando Letícia é mulher, não consegue parar de pensar na nuca de um novo amor.

Letícia finge que não acredita no amor. Faz corte de cabelo moderno, tatuagem, calça all-star e tenta se esconder. Reclama que os homens são estranhos, uns gostam de pagode, outros têm problemas muito sérios e Letícia quer um companheiro. Porque Letícia, menina-mulher é pura, a alma transparente, e se vê defeitos grita; Letícia não quer guardar nada de ruim.

Letícia pede desculpas por não me contar segredos. Ela desconversa, não olha, mas vai embora arrasada porque não sentiu vontade. Letícia não gosta de não sentir vontade.

Letícia não sabe fingir que trabalha; não sabe fingir que gosta; não sabe ser irônica. Porque Letícia finge, e aí ela sabe como ninguém, que tem raiva, que está fraca, que é invisível. Mas desiste também, quando acorda, antes de querer salvar o mundo.

11 de jul. de 2006

Auto-retrato

De frente ao espelho, sentado numa cadeira antiga, caderno apoiado nas pernas, eu tento fazer um auto-retrato.
Olho minha cara, admiro o quanto de mim ainda não conheço. Olhar nos próprios olhos, ver as marcas que a idade trouxe, fixar a atenção nos novos traços de um homem, agora tão definidos.
O lápis na mão esquerda...
O papel ainda branco.
Lábios um tanto pequenos, olhos grandes, orelhas disformes, humano.
Perco-me, eu sei, por entre alguns traços que queria ter, ou entre outros que não queria. Fixo a atenção pra poder começar. Um traço apenas, um estopim, fagulha que faça recriar meu auto-retrato.
...
Surpreso, linhas correm de um canto a outro da folha.
Lentamente uma figura estranha nasce.
Mas não sou eu ali, desconfio.
Uma figura tão uniforme, clara, olhos penetrantes. Harmonia dos sentidos.
Em nenhum traço aquilo soava como espelho, mas confesso que gostei daquilo.
...
Diálogo:
Amigo - Nossa, tá lindo esse desenho... É igualzinho a você!
Eu - Jura? Eu não consigo me reconhecer em nada.
Amigo - Que isso... Tá idêntico, muito bom! Os olhos então, nossa, parece que estou olhando para você...
Eu - Mas e essa cara calma, esse semblante pacífico???
Amigo - Ué?!? Então! É você mesmo!!!
...
Incrível o quanto não nos conhecemos. E olha que nem falei da segunda camada...

10 de jul. de 2006

Melancia...


Melancia

Gostinho de melancia...

E por conseguir a definição perfeita para o beijo dele, eu merecia mais um.

Depois, no silêncio, eu sorria secretamente, mas ele dizia que sempre sabia quando eu estava rindo por dentro, enquanto beijava-me novamente com desejo maior que o habitual. Talvez por entender tudo sem que ao menos eu dissesse uma só palavra.

Melancia!

A sensação era de que eu havia descoberto o que faltava para que aquele romance de verão tomasse força. É fato que aquele gosto que ficava na minha boca por diversas noites me fez perder o sono. Pela falta de definição, eu imagino.

Mas agora era diferente, tudo era diferente. Ele parecia mais doce, mais amável, e me pergunto se não fui eu quem ficou assim.

A partir dali tudo começou a funcionar. Eu queria mais e mais beijos sempre. Aquele gosto forte já entrava em mim refrescando minha boca e esquentando todo meu resto. Era melancia...

Nos conhecemos na praia: ele de sunga, eu de bobeira. Veio a mim perguntando se queria beber uma cerveja, eu disse não. Perguntou meu nome, eu disse Vera, ele, Paulo. Sentou ali mesmo na areia com jeitão de surfista zona sul. Eu sorri quando ele insistiu na cerveja, mas aceitei. Reclamou do sol quente, da bebida também quente, da água fria. E eu implicante.

Deu-me seu telefone e hotel e eu, displicente, joguei em cima da bolsa. Pediu que eu ligasse e saiu. Sunga vermelha, eu totalmente vermelha, ele nem aí.

Liguei. Morava no Rio de Janeiro, eu em São Paulo. Ponte aérea, ele disse. Medo de avião, eu retruquei. Búzios - o ponto em comum. Eu nem sempre, ele todo fim de semana. Ele surfe, malhação, moda e eu clube, aeróbica e estilo. Eternamente rivalidades cariocas e paulistas.

Adversidades a parte, quis saber a hora de me pegar sem antes perguntar se eu queria vê-lo Mas eu queria.

As nove chegou com perfume importado. Eu tinha a boca seca. Deu-me a mão enquanto eu dei-lhe um sorriso. Abriu a porta do carro pra mim e quando entrou beijou-me e deixou aquele gosto em mim pra que eu ficasse me consumindo até descobrir o sabor. Mas não sentia mais sede embora meu calor tivesse aumentado consideravelmente.

Restaurante japonês, saquê, pileque.

Beijos e beijos. Eu enlouquecida com o gosto indecifrável. Num ímpeto quis soprar o garçom pra ele poder sentir o cheiro e me ajudar, mas logo atribuí essa idéia insana ao excesso de saquê. Voltei à mesa, ele pagou a conta.

Não me perguntou onde, mas seguiu firme. Seu corpo já sinalizava; o meu escandalizava. Um balé surdo movido pelo gosto da sua boca. Alguns minutos sem os beijos, eu novamente com a boca seca.

Praia. Ele parou o carro. Desceu, apontou as estrelas. Eu nada vi além da boca dele chegando perto da minha. Foi aí que senti. Melancia...

E aquilo foi se tornando mais forte, mais fresco, mais claro.

...

Onze anos depois ainda sinto esse gosto nele, embora os beijos já não sejam tão freqüentes.

Onze anos depois ele não sabe desse gosto enquanto eu conheço cada gota.

Ele ainda abre a porta do carro, mas eu agora moro no Rio de Janeiro. Nós ainda bebemos saquê, ele me leva à praia de noite mas agora já consigo ver as estrelas.

E há onze anos a cada beijo sinto como se fosse verão, como se fosse Búzios, como se eu fosse única.

7 de jul. de 2006

A vida imita o vídeo

Depois de assistir ao filme 'Separados pelo casamento', o casal de verdade:

1. E aí, gostou do filme?
2. Gostei... (com cara feia)
1. Porque essa cara então?
2. Sei lá! Gostei, mas não era isso que eu estava pensando em ver hoje...
1. E o que você queria ver?
2. Uma coisa mais leve, uma comédia de repente! Esse filme é meio deprê, meio denso demais...
(silêncio total, 6 segundos)
2. Mas gostei, me faz repensar algumas coisas.

FIM.