26 de set. de 2006

Seu nome já não importa.

Tenho a sensação de que os sonhos podem ser mais reais do que a própria realidade, às vezes.
Foi ontem, e eu abraçava calorosamente uma pessoa que não sinto o menor apreço. Melhor (sinceridade sempre foi meu problema) essa pessoa, que ontem estava entre meus braços em sonho, é o primeiríssimo lugar da lista dos meus desafetos.
No sonho alguém pedia desculpas para alguém, ou ele ou eu, não me lembro. O importante era o abraço, uma coisa quente, amorosa, de perdão, sem ressentimento, cheio de verdade.
E hoje acordei assim, com vontade de perdoar. Na verdade acordei pensando no porquê do ressentimento. E, sinceramente, não lembrei de nada.
Tá certo – mentiras e investidas desleais vão continuar existindo, e são reais. Mas quando acordei, daquele sonho, me senti igual ao meu desafeto. Igual mesmo. Em defeitos e qualidades. E não perdoei a ele, simplesmente voltei atrás, me revi e achei que devia me perdoar.
Uma pena, já tentei uma vez reaproximar-me, mas cheguei errado, escrevi inimizades, fui soberbo. Perdi minha chance.
Hoje só gostaria que ele pudesse ler isso, tentar entender.
E se for muito, que ele talvez e então sonhe.
E que tal abraço possa ser real, um dia desses.

12 de ago. de 2006

Mãos e corpos

Janelas e cortinas fechadas, uma meia luz laranja, um cheirinho de incenso de sândalo, uma boa roupa de cama limpa, um belo parceiro a sua espera e ela, agora profundamente à vontade para fazer um strip-tease.

Vale lembrar de um pequeno espelho estrategicamente colocado à cabeceira da cama para que ela pudesse verificar tudo (esse tudo na verdade era só um pequeno pneu, acima dos quadris, que ela desejava que ficasse bem preso dentro da sua nova lingerie um número menor do que habitualmente usava...)

Música envolvente e pronto. Peça a peça ela foi ficando nua. Via nos olhos de Ramon a sua satisfação e se encorajava. Via também os pneus ainda bem dentro da calcinha, que ela espertamente planejava tirar por ultimo, já com as luzes totalmente apagadas.

Ela era bastante envolvente. Tinha olhos atentos e mirava-os firmes nos olhos dele. Ao mesmo tempo estava atenta a todo resto para que nada soasse arrítmico. E assim foi.
Já nua (salvo a calcinha), apagou a luz e deitou-se na cama. Tirou a última peça e deixou que ele a tocasse. E ele enfim a sentiu.
Mas ele achou os pneus, ela tinha certeza.
Apalpou-os com mãos estranhas e as tirou rápido. Mas voltou a tocá-los como que para conferi-los.

E foi o fim para ela. Tudo parecia falso a partir dali. Não foi feliz. Não gozou.
No dia seguinte: duas horas de esteira, drenagem linfática, duas horas de spinning. E assim seguiu por três intermináveis semanas (isso sem mencionar uma horrorosa dieta e duas consultas com um cirurgião plástico que, estranhamente, não achou os pneus na sua cintura).
Estava novamente preparada.

Foram jantar num restaurante famoso da cidade, tomaram um bom vinho, divertiram-se.
Na volta para casa o desejo foi maior e tudo aconteceu ali mesmo no carro.É bem verdade que ele só levantou seu vestido...Ela não lembrou dos pneus que ele provavelmente nem notou também.
Nunca sentiu tanto prazer.
Mas sentiu ele tocar seus seios com aquelas mesmas mãos estranhas e pronto. Eles estavam caídos, concluiu.

Definitivamente era hora de uma nova visita ao cirurgião plástico. Mas ia escolher outro, porque o antigo não lhe parecera muito confiável...

27 de jul. de 2006

Sombras e abraços.


Ontem eu só queria proteção (hoje ainda quero).
Era só um desejo de estar entre seus braços (e quem saber chorar um pouco).
Mas você reclama, sempre reclama.
Digo que está bonito, que a roupa te vestiu lindamente (e você? você olhou-me como um espelho...).
Não posso dizer que estou triste, você me diria que eu sempre reclamo da vida.
E se realmente reclamo da vida você não ouve, apenas retruca que a sua também não é fácil.
Mas não é isso, meu bem...
Se for sempre assim, não quero.
Pra mim o que mais emociona é ser entendido por um olhar, uma palavra atravessada. Pra mim o que mais arrebata é o crédito quando não há nada que possa comprová-lo, além do amor.
Ontem eu só queria proteção (hoje ainda quero). Sentir você fazendo sombra sobre minha cabeça. O sol anda forte nesse inverno...
E você me responde que sabe o que está fazendo.
Mas não é isso, meu bem...
Deixe-me um pouco olhar você (será que também consegue ser meu espelho?).
Se não for assim sempre, não quero.

12 de jul. de 2006

Letícia!

Confiram: http://mosaicodedeus.blogspot.com/


Leticia, essa mulher que brinca de ser menina. Ou seria só uma menina que brinca de ser mulher?
Porque Letícia é assim, todas numa só.

Acorda querendo salvar o mundo e no caminho decide tentar ser mais egoísta. Mas sente-se culpada, quer continuar carregando a fantasia de certinha (Letícia entrou na comunidade do Orkut “Cansei de ser certinha”!).

Letícia coleciona vitórias, mas vive sempre na luta. Porque ela tem algumas derrotas, sim, mas Letícia sempre enxuga as lágrimas quando acorda, antes de querer salvar o mundo.

Letícia, quando é menina, fica vermelha se ouve seus amigos falando de sexo. Mas quando Letícia é mulher, não consegue parar de pensar na nuca de um novo amor.

Letícia finge que não acredita no amor. Faz corte de cabelo moderno, tatuagem, calça all-star e tenta se esconder. Reclama que os homens são estranhos, uns gostam de pagode, outros têm problemas muito sérios e Letícia quer um companheiro. Porque Letícia, menina-mulher é pura, a alma transparente, e se vê defeitos grita; Letícia não quer guardar nada de ruim.

Letícia pede desculpas por não me contar segredos. Ela desconversa, não olha, mas vai embora arrasada porque não sentiu vontade. Letícia não gosta de não sentir vontade.

Letícia não sabe fingir que trabalha; não sabe fingir que gosta; não sabe ser irônica. Porque Letícia finge, e aí ela sabe como ninguém, que tem raiva, que está fraca, que é invisível. Mas desiste também, quando acorda, antes de querer salvar o mundo.

11 de jul. de 2006

Auto-retrato

De frente ao espelho, sentado numa cadeira antiga, caderno apoiado nas pernas, eu tento fazer um auto-retrato.
Olho minha cara, admiro o quanto de mim ainda não conheço. Olhar nos próprios olhos, ver as marcas que a idade trouxe, fixar a atenção nos novos traços de um homem, agora tão definidos.
O lápis na mão esquerda...
O papel ainda branco.
Lábios um tanto pequenos, olhos grandes, orelhas disformes, humano.
Perco-me, eu sei, por entre alguns traços que queria ter, ou entre outros que não queria. Fixo a atenção pra poder começar. Um traço apenas, um estopim, fagulha que faça recriar meu auto-retrato.
...
Surpreso, linhas correm de um canto a outro da folha.
Lentamente uma figura estranha nasce.
Mas não sou eu ali, desconfio.
Uma figura tão uniforme, clara, olhos penetrantes. Harmonia dos sentidos.
Em nenhum traço aquilo soava como espelho, mas confesso que gostei daquilo.
...
Diálogo:
Amigo - Nossa, tá lindo esse desenho... É igualzinho a você!
Eu - Jura? Eu não consigo me reconhecer em nada.
Amigo - Que isso... Tá idêntico, muito bom! Os olhos então, nossa, parece que estou olhando para você...
Eu - Mas e essa cara calma, esse semblante pacífico???
Amigo - Ué?!? Então! É você mesmo!!!
...
Incrível o quanto não nos conhecemos. E olha que nem falei da segunda camada...

10 de jul. de 2006

Melancia...


Melancia

Gostinho de melancia...

E por conseguir a definição perfeita para o beijo dele, eu merecia mais um.

Depois, no silêncio, eu sorria secretamente, mas ele dizia que sempre sabia quando eu estava rindo por dentro, enquanto beijava-me novamente com desejo maior que o habitual. Talvez por entender tudo sem que ao menos eu dissesse uma só palavra.

Melancia!

A sensação era de que eu havia descoberto o que faltava para que aquele romance de verão tomasse força. É fato que aquele gosto que ficava na minha boca por diversas noites me fez perder o sono. Pela falta de definição, eu imagino.

Mas agora era diferente, tudo era diferente. Ele parecia mais doce, mais amável, e me pergunto se não fui eu quem ficou assim.

A partir dali tudo começou a funcionar. Eu queria mais e mais beijos sempre. Aquele gosto forte já entrava em mim refrescando minha boca e esquentando todo meu resto. Era melancia...

Nos conhecemos na praia: ele de sunga, eu de bobeira. Veio a mim perguntando se queria beber uma cerveja, eu disse não. Perguntou meu nome, eu disse Vera, ele, Paulo. Sentou ali mesmo na areia com jeitão de surfista zona sul. Eu sorri quando ele insistiu na cerveja, mas aceitei. Reclamou do sol quente, da bebida também quente, da água fria. E eu implicante.

Deu-me seu telefone e hotel e eu, displicente, joguei em cima da bolsa. Pediu que eu ligasse e saiu. Sunga vermelha, eu totalmente vermelha, ele nem aí.

Liguei. Morava no Rio de Janeiro, eu em São Paulo. Ponte aérea, ele disse. Medo de avião, eu retruquei. Búzios - o ponto em comum. Eu nem sempre, ele todo fim de semana. Ele surfe, malhação, moda e eu clube, aeróbica e estilo. Eternamente rivalidades cariocas e paulistas.

Adversidades a parte, quis saber a hora de me pegar sem antes perguntar se eu queria vê-lo Mas eu queria.

As nove chegou com perfume importado. Eu tinha a boca seca. Deu-me a mão enquanto eu dei-lhe um sorriso. Abriu a porta do carro pra mim e quando entrou beijou-me e deixou aquele gosto em mim pra que eu ficasse me consumindo até descobrir o sabor. Mas não sentia mais sede embora meu calor tivesse aumentado consideravelmente.

Restaurante japonês, saquê, pileque.

Beijos e beijos. Eu enlouquecida com o gosto indecifrável. Num ímpeto quis soprar o garçom pra ele poder sentir o cheiro e me ajudar, mas logo atribuí essa idéia insana ao excesso de saquê. Voltei à mesa, ele pagou a conta.

Não me perguntou onde, mas seguiu firme. Seu corpo já sinalizava; o meu escandalizava. Um balé surdo movido pelo gosto da sua boca. Alguns minutos sem os beijos, eu novamente com a boca seca.

Praia. Ele parou o carro. Desceu, apontou as estrelas. Eu nada vi além da boca dele chegando perto da minha. Foi aí que senti. Melancia...

E aquilo foi se tornando mais forte, mais fresco, mais claro.

...

Onze anos depois ainda sinto esse gosto nele, embora os beijos já não sejam tão freqüentes.

Onze anos depois ele não sabe desse gosto enquanto eu conheço cada gota.

Ele ainda abre a porta do carro, mas eu agora moro no Rio de Janeiro. Nós ainda bebemos saquê, ele me leva à praia de noite mas agora já consigo ver as estrelas.

E há onze anos a cada beijo sinto como se fosse verão, como se fosse Búzios, como se eu fosse única.

7 de jul. de 2006

A vida imita o vídeo

Depois de assistir ao filme 'Separados pelo casamento', o casal de verdade:

1. E aí, gostou do filme?
2. Gostei... (com cara feia)
1. Porque essa cara então?
2. Sei lá! Gostei, mas não era isso que eu estava pensando em ver hoje...
1. E o que você queria ver?
2. Uma coisa mais leve, uma comédia de repente! Esse filme é meio deprê, meio denso demais...
(silêncio total, 6 segundos)
2. Mas gostei, me faz repensar algumas coisas.

FIM.

23 de jun. de 2006

Pé Sujo

Porque tenho a impressão de só encontrar com pessoas que não quero ver? É só ter um assunto mal resolvido, uma pendenga qualquer, que pimba! Lá está o objeto do desafeto escondido atrás de uma esquina da vida.

E não adianta esconder-se ou esquivar-se, o sujeito sempre vai vê-lo. Você pode estar ruiva, de óculos escuros, ter empinado um pouco o nariz – e ainda assim ele virá com aquele velho clichê “você não mudou nada!”.

Dia desses encontrei com um deles. Chamarei-o de Pé Sujo, pra proteger sua identidade, ou para proteger a mim mesma, não sei.

Ele era apenas um cara com quem saí umas duas vezes – talvez até mais – e depois de uma noite nem tão boa assim acordei com seus enormes pés sujos bem perto do meu rosto! Como eram nojentos aqueles pés. Vesti-me, saí e nunca mais vi Pé Sujo.

Agora ele estava ali, na minha frente.

- Oi, você não mudou nada – disse

- Oi – respondi e pronto.

Imaginei continuar andando e fazer daquele momento uma lembrança desagradável. Mas Pé Sujo não estava satisfeito. Senti-o olhando nos meus olhos e fazendo a pergunta que eu tanto temia:

- Porque você nunca mais me ligou?

Deus! Porque tinha de ser tão direto?!? Eu só queria tomar um café a dois quarteirões da minha casa e agora estava tendo que me explicar àquele primata. Saí pela culatra:

- Você também não ligou mais – disse. Mas corei quando lembrei de ter visto algumas ligações não atendidas na secretária eletrônica...

- Mas eu liguei sim.

- É que faz tanto tempo – sabia que não era uma resposta, mas arrisquei.

- O que anda fazendo?

- O de sempre, trabalho e nada mais. Desculpa, estou indo tomar um café, tenho que ir – disse firme.

- Posso acompanhar você???

Silêncio total. Alguns muitos segundos depois:

- Bem, vai ser rápido mas... Ok, podemos ir – e fui. Contrariada, mas fui.

No caminho até achei Pé Sujo bem mais agradável. Trabalhava agora numa grande revista, mudara-se para Ipanema (embora não fizesse a mínima idéia de onde ele morava antes!), vestia-se incomparavelmente melhor. Vale até uma descrição do figurino para chegar à parte que mais interessa: vestia lindas calças jeans Levi’s, uma bata branca de corte fino e nos pés uma sandália de couro. E os pés? Deus! Eles eram inacreditavelmente lindos agora! E limpos...

O café virou um almoço, que virou um programa, que terminou na sua casa com outro café.

Depois de tudo feito vi-o mostrar os pés para mim com uma péssima dissimulação e tive vergonha. Será que em algum momento deixei ele perceber algo?

Trocamos telefone, algumas palavras carinhosas de reencontro e voltei para casa com a sensação de que havia me equivocado. Nem só de reencontros desagradáveis vivem as esquinas de uma grande cidade.

Mas estranhamente Pé Sujo não ligou mais.

E alguns dias depois percebi que realmente estava certa.

Pé Sujo já não era mais um desagradável e por isso estava fadado ao desaparecimento.

13 de jun. de 2006

Estiagem


"Essa tempestade um dia vai acabar...
Só quero te lembrar de quando a gente andava nas estrelas,
Abra a janela e veja: eu sou o sol, eu sou céu e mar.
Eu sou seu e FIM, e o meu amor é imensidão."

12 de jun. de 2006

Fernanda... Em 1989.

Falamos de paixões adolescentes hoje, no almoço.
Falamos mais, falamos de coisas que não foram ditas, por medo ou por pura imaturidade. Falamos ainda de arrependimentos, de culpa, de vontade de ter feito diferente.
E então eu, após o pavio aceso, quero falar de rumos.
...
Era 1989, segunda-série, Miracema, Colégio Ceneciste Nossa Senhora das Graças.
Era a Fernanda, a menina mais linda do colégio, a mais cobiçada da sala, a mais desejada entre mim e meus amiguinhos. Nove anos, eu tinha.
Fernanda era uma boneca: cabelos lisos, pretos, olhos puxados, nariz arrebitado. E eu, menino tolo, completamente apaixonado.
Lembro de tanta coisa: dos estudos no portão da sua casa, sentados no chão, cadernos apoiados em banquinhos. Eu imaginava que ela sentia o mesmo que eu, aquela vontade de ficar perto, de conversar. Mas ela, entendo, morava numa outra dimensão. Era imortal já, pisava nos astros e passava lânguida e ria.
Seu quarto era todo rosa, cortinas de babado, ursinhos de pelúcia. Eu pensava nela dormindo ali naquela cama, era tão difícil imaginá-la fazendo coisas comuns, coisas que eu fazia, que os outros faziam. Ela comia, dormia, ia ao banheiro? Isso eu ainda não sei.
Era uma festinha americana, casa da Bruna. Meninos levavam refrigerante e meninas, salgados.
E a Fernanda ali, entre todos os meninos que a amavam, decidiu dizer que ela, a imortal, amava o Rodolfo. E nessa hora eu percebi não só sua imortalidade como a minha mortalidade.
Foi minha primeira decepção amorosa, confesso.
Mas estranho, no segundo andar da casa, um outro menino, Welber, estava chorando por conta da descoberta. Ele também amava Fernanda, que amava Rodolfo, que provavelmente amava Fernanda. E ponto.
E eu, estranho, senti minha dor ir embora pra poder passar a mão nas costas do Welber. Talvez quisesse dizer: “amigo, ela é uma deusa.” E aí voltamos para aquela velha história de coisas que não foram ditas, imaturidade e etc e tal.
...
Fernanda hoje é deusa completa, de fotos com flores pelo cabelo. Vaga agora pelos astros completamente, numa interação plena.
Fernanda hoje é o astro, e sabe, madura, da força de sua beleza.
Hoje Fernanda, amiga do peito, mora um tanto afastada, talvez nós tenhamos sido empurrados por caminhos diferentes de vida.
Se ela sabe dos amores que despertava naquela época, não sei. Mas acredito que sim.
Se eu poderia, hoje, falar do meu amor pueril? Talvez.
Existem pessoas que lamentam amores não realizados, palavras não ditas.
Eu não.
Ainda que eu seguisse pelos caminhos “naturais” de um homem ou ainda que deusas povoassem meus sonhos e desejos, ainda assim não me arrependeria.
Fernanda é plena.
E eu amei e desamei ao meu tempo, sem traumas.

6 de jun. de 2006

Educação. Por Maria Angélica Alves

Esse post vai assim, sem qualquer acréscimo meu, sem qualquer palavra a mais. Aliás, ele fala sozinho, até mesmo aqui, fora do seu contexto.
Obrigado a Angélica, professora do Caps Uerj, pela gentileza de permitir que meu humilde blog compartilhe de tamanha paixão...
"No dia 19 de maio, li uma matéria no jornal "O Globo" que me fez pensar muito em vocês. "Realidade muito além do futebol" era o seu título e "Alunos de escola pública em Weggis descobrem o Brasil", o subtítulo. Um menininho louríssimo, lindo, saudável, de cinco ou seis anos, vestindo a camisa de Ronaldo, corria com uma bandeira do Brasil, durante uma aula de Educação Física, numa escola PÚBLICA da Suíça. As outras fotos mostravam uma ampla e clara sala de aula, com um mobiliário estalando de novo, mapas, telões, cartazes, janelões exibindo paisagens verdejantes, dois professores, cerca de quinze alunos, um luxo!

Imaginem que lá, na Suíça, em Weggis, a cidade onde a nossa brilhante Seleção treina e descansa, se preparando para a Copa, todos os alunos acordam cedo (como vocês), mas passam, diariamente, nove horas na escola. Praticam esportes, aprendem alemão, francês, inglês e italiano e, nesse momento, desenvolvem um projeto especial: conhecer a realidade do Brasil e dos brasileiros.

Nesse projeto, os alunos de Weggis pesquisaram vários temas da nossa cultura: a agricultura, a arte, o carnaval, a fauna e, claro, o futebol. Durante os estudos, ficaram impressionados com o tamanho do nosso país (nem sabiam localizá-lo no mapa!) e se admiraram ao saber que se leva dez horas de avião para ir do Norte ao Sul do Brasil e que só a cidade do Rio de Janeiro tem mais habitantes do que a Suíça inteira!!!! Vocês sabiam? Mas localizar a Suíça no mapa eu tenho certeza que vocês sabem...Conheceram muitas belezas do nosso imenso e fantástico país, como o Pantanal Matogrossense, por exemplo. Experimentaram o nosso café e até sambaram com um professor colombiano, que se divertiu, afirmando: "As meninas até levam jeito, mas os meninos são duros demais!".

Um dos pontos altos do projeto "Semana do Brasil", na Escola Schulhaus Kirchmatt (é assim que ela se chama), foi a projeção do filme "Cidade de Deus". No filme, adolescentes brasileiros vivem nas ruas e convivem com uma violência sem tamanho. Vocês podem não ter visto o filme, mas conhecem bastante essa realidade de tanto ver e ouvir falar, não é? Os adolescentes suíços ficaram “chocados”, impressionados mesmo com algumas cenas, porque mostrava uma realidade muito cruel, bem diferente daquela que eles aprenderam a conhecer nos cartões postais. Olhem só o que uma jovem de quinze anos, a Dora, concluiu, ao final: “Entendi que, no Brasil, a criança pobre vira jogador de futebol ou entra para uma gangue. Essa é a vida real dos brasileiros.” Eles pensavam que no Brasil só existia samba ou futebol. Então desenvolveram com o professor Markus Bregy os temas "Meninos de Rua" e "Criminalidade juvenil". Nessa escola PÚBLICA, há 423 alunos, entre o jardim de infância e o ensino médio. Vocês sabem quantos alunos há no CAp? Mais de 423? Menos? Procurem saber...

Também estávamos preparando um belo projeto para desenvolvermos no CAp durante a Copa. Queríamos estudar com vocês (e ainda queremos!) as culturas dos diferentes países que participarão da Copa. Tivemos que adiar esse projeto e outros também, acho que vocês já sabem o motivo. É isso mesmo. Estamos lutando muito para melhorar a nossa vida lá no CAp.

No CAp que sonhamos para vocês e para nós, professores, as carteiras e cadeiras não estão destruídas pelo tempo ou pelos cupins; o único elevador do nosso prédio de cinco andares funciona; os pátios são arborizados e têm espaço para brincadeiras e prática de esportes; as bibliotecas têm espaço para todos circularem à vontade e estão recheadas de livros,revistas,computadores; as salas de aula são arejadas e oferecem a segurança e o conforto necessários para que as aulas sejam agradáveis e muito, muito valiosas para o crescimento de vocês. Lá, nesse CAp que sonhamos, também não falta professor para ensinar inglês, francês, italiano, espanhol, chinês; os laboratórios são bem equipados; as cantinas e o restaurante servem alimentação saudável e ocupam um espaço adequado; professores não precisam ser substituídos todo ano, podendo participar de concursos e realizar, continuamente, projetos e pesquisas que enriqueçam cada vez mais o trabalho que desenvolvemos com vocês, e os funcionários não precisam ficar correndo de um lado para o outro para poder atender as nossas solicitações. Nesse CAp, teríamos um ônibus para fazer excursões incríveis, não seria o máximo? Ah, tantas coisas simples, necessárias e adoráveis teríamos. A lista é muito longa, vou parar por aqui. Só fico com peninha, muita mesmo, porque esses sonhos não são impossíveis, não precisavam ser. O Brasil não é a Suíça, mas poderia avançar muito, se quem cuida dele tivesse vontade de mudar o que não anda muito bom, vocês não acham?
Não sei se vamos conseguir realizar esse sonho de CAP algum dia, mas não desistiremos nunca, sabem por quê? Porque viver sem sonhar não tem a menor graça. Não mesmo.
Eu acho que o Brasil vence essa Copa fácil, fácil. E vocês? É um time e tanto, Ronaldinho é mesmo um super craque. E o Kaká, então? Nossa, é demais!Mas precisamos mesmo é continuar lutando - e vocês vão ajudar muito nessa tarefa gigantesca -, para fazer o nosso Brasil tão querido vencer todas as dificuldades que já vem enfrentando há muitos, muitos, muitos anos para ser realmente um grande país, não só no mapa, como já é, mas na mente e nos corações de todos nós."

5 de jun. de 2006

Variações sobre o mesmo tema/ Final de semana confuso/ Nova ótica


1. Outro dia eu enterrei uma pimenta, que morreu e caiu do galho, na terra do vaso.
Ontem ela já havia brotado, e é agora um lindo broto.
E me pergunto: será que não é isso? Será que a morte não é isso? Será que a gente não "vira" alguma coisa muito melhor?
Então, Letícia, não é isso?


2. Decidir se vou ou não para Europa na verdade é decidir algo muito maior.


3. Amigos antigos que se calam são diretamente proporcionais à novos que participam.

1 de jun. de 2006

Asas

Se conseguisse tirar os pés do chão para alçar vôo naquele momento talvez realmente nem precisasse das asas. Mas elas estavam ali, nas minhas costas, e a janela aberta me convidava a batê-las.

Quando ganhava o céu, de vez em quando, sentia náuseas. Mas sabia que não a sensação não passava de uma insegurança de não estar preso a nada, nem a mim. E era isso que me fascinava no vôo, estar livre até de tentar entender o porquê.

Se chovia então era melhor: um pingo sempre pode parecer uma lágrima, e uma lagrima, se minha, era também chuva. Se raios então o fizessem, era luz e se luz fosse a asa, dia. E já nem lembrava das pernas, essas malditas raízes que me fincavam na terra.

Se nublado, soprava as nuvens e desenhava com elas, sem aquarela ou pincel, só as dispondo ao sabor das asas pra ver alguém lá de baixo apontando e vendo elefante onde era gato.

Se manhã acompanhava o sol de mãos dadas e colocava-o no pino do meio dia, mas depois o levava para um mergulho no mar, quando era vez da lua.

Se fosse sol, fazia sombra, mas se eu fosse então a sombra, refresco.

E se cheia fosse a lua, podia fazê-la crescente, ou minguante, dependendo de onde eu fizesse a sombra, mas agora sem o refresco.

Se verão, era brisa; se inverno seco; se outono companheiro; se primavera cor.

Voava por horas, por dias, por anos, embora enquanto no ar não conseguisse entender de tempo. Na verdade entendia só de nunca, mas o nunca parecia muito longe pra entrar nessa história.

Se fosse cidade, voava baixo; se estado, médio; se fosse país, muito alto e tudo o que via eram pontos/pessoas que eram em suma o que a visão torta veria ainda que de perto: apenas pontos,pontos, pontos. Com raízes.

Mas o que mais gostava era do arco-íris. As cores a todo momento mudavam, ou será que meus olhos é que as viam diferentes sempre? Se via-o perto, era muito longe, mas se nem o percebesse poderia estar dentro dele.

De tanta prática já conseguia voar de olhos fechados e ainda assim via muito, porque muito do que enxergava era puro sentimento. Mas se os olhos estivessem então abertos, então era sentimento, e puro.

Voava cada vez mais, descobria cada vez mais, sentia cada vez mais. Cheguei a ponto de ouvir com os olhos, ver com ouvidos, sentir com alma.

Não me importava com a descrença dos outros no meu vôo pois só os que tinham os olhos presos na terra não poderiam ver a beleza do que se esconde atrás do ar. Com o tempo parei de contar minhas aventuras porque quanto mais contava, menos voava.

E como meus pés já não me prendiam mais, passaram e prender minhas mãos também.

Conheci em uma de minhas viagens um homem-pássaro, que como eu, vivia preso numa gaiola mas conseguiu fugir. Mas ele não sobreviveu muito, coitado. Era simples no que via, primário no que sentia e mesmo com asas nunca ia muito

longe.

Mas eu não era nem pássaro, nem avião, nem folha seca, nem ar.

Quando tinha asas era tudo de tanto ser nada.

31 de mai. de 2006

O bem o mal (ou o bom e o mau, talvez...)


Essa imagem sempre me inquieta e hoje ela tem um significado maior ainda.
Se todo bem (bom) tem um pouco de mal (mau) e seu todo mau (mal) tem um pouco de bom (bem), então pra quê tanto nervosismo?!?!!?
E mais, o próprio símbolo, que sugere uma rotação, sugere também mudança, constante mudança...
Vamos ser assim, minha gente!
Há sempre a possibilidade de ser o "outro", o oposto, o diferente. Nada no mundo está definido, nada está determinado...
Não há lados, não há posições a serem seguidas ou copiadas.
O vilão, aquele mesmo da novela, malvadinho total, que mata, rouba, e que nunca chora, pode ser você hoje, ou amanhã. Mas sem esses extremos, a vida boa é aquela que segue às vezes morna - não há porque assutar-se com tamanha volubilidade.
Somos bem/mal ou bom/mau sempre. Só depende do dia, do humor, do interesse.
E, relaxem, é normal e humano.
" And i'm not sorry,
it´s human nature.
Ops! I didn't I know I could speak my mind..."
Human Nature, Madonna.

Os seriados americanos!


Pronto, descobri: a vida poderia ser como os seriados americanos.
Foi ontem mesmo, assistindo a um episódio de The O.C. que cheguei a essa conclusão bombástica e revolucionária.
É mais ou menos assim: nos seriados tudo é muito rápido e os problemas que surgem são resovidos, pasmem, no mesmo episódio. Tá, tudo bem, existem outros problemas “sérios” (como “com qual dos dois pretendentes – ambos lindos, sempre - a mocinha deve ficar”) que duram toda uma temporada, mas a gente não liga, por que sabe que vão acabar sendo resolvidos, uma hora ou outra.
Nos seriados todo mundo é lindo, bem vestido, com dentes tipo comercial de creme dental. Empregadas, garçons, seja lá quem for, todo mundo está sempre com a pele impecável, os cabelos bem cortados e cheios de amor pra dar. Quero ver se morassem no Rio e tivessem que pegar o 474 lotado todo dia de manhã! Desafio qualquer gel ultra-fixador ou creme “descontrator de rugas” a aguentar essa parada...
Nos seriados todo mundo é super inteligente e sabe soltar uma piadinha ou trocadilho na hora exata. E as piadas são sempre muito criativas, muito bem colocadas e mesmo quando consideradas pesadas e ofensivas, são tratadas com muita naturalidade. Já vi gente sendo chamado de gordo, de bicha, de pão-duro e responder com um sorriso do tipo: “ok, sua piada foi muito inteligente”. Até a mais burrinha das gostosonas ou o mais infantil dos garotos sempre tem uma gracinha para ser feita, sempre.
Nos seriados, que inveja (!), ninguém nunca tem problema com grana. O advogado ganha bem, a corretora ganha bem, a escritora ganha fortunas e o vendedor de carros então! Ganha o suficiente pra passar toda um temporada sem trabalhar e ainda assim comprar casa nova, carro novo e viajar (de primeira classe, quando ele não tem seu próprio jatinho...) para a Polinésia. Aquela empregada do comercial de creme dental até já reclamou algumas vezes, mora na periferia, os filhos estudam em colégios públicos, mas ela está lá: maquiada, bem vestida, andando de táxi pra cima e pra baixo e, no final da temporada, ainda dá em cima do patrão! Quando ela já não tem um caso com ele, lógico...
Nos seriados, e essa é a melhor, ninguém fala ao mesmo tempo que outra pessoa. Nem nas discussões, nem nas conversas de bar, nem nas festas, nunca! Todo mundo, educadamente, espera o outro acabar de falar e em seguida, rapidamente, fala, e assim sucessivamente... E quando é uma discussão entre marido e mulher, por exemplo? Eles podem até estar gritando, mas fazem isso educamente, um após o outro! E no final alguém sempre sai convencido de que falou e demais e, isso é preocupante, sempre pede desculpas ao outro. Agora me fala: é ou não é o paraíso?

Pra começar...

Segunda-feira

Hoje acordei assim, sem vontade nenhuma de ser objetivo.

O trabalho me invoca, me provoca, me instiga e intriga. E a cada página eu recuo, me fecho, me torno tão introspecto que nem pronuncio nada além do que há de mecânico em mim. Bom dia, digo. E soa bem, ninguém percebe.

No mp3 player só tocam músicas estranhas, mas sou eu quem as busco. Não quero nada inteligível, nada entendível. Quero sentir o embalo mas não entender as letras; quero só ouvir, mas aquele ouvir descomprometido. E se pudesse, sobreviver sem cérebro, sem assimilar nada, passar simplesmente, deixar passar, e só.

Tenho vontade de tanta coisa... Mas não tenho coragem pra nada, mas nem vou entrar nesse mérito. Aliás, nem sei o que me traz aqui.

Quero logo terminar isso, esse texto cheio de palavras. Voltar a fingir que sou eu, voltar a achar que amanhã é terça-feira, que já é quase quarta, que já é quase quinta, que é vespera de sexta, à tarde.

Tanta coisa acontecendo, gente entrando e saindo da sala o tempo todo, gente conversando, gente reclamando. Aliás, hoje não quero nem reclamar de nada. Acordei meio implicante, meio impaciente, ansioso por querer logo que chegue amanhã, depois de amanhã, mês que vem. Por que? Não tenho a menor idéia.

As pessoas falam de amor, as músicas falam de amor, as novelas falam de amor. Eu quero hoje é falar do desamor, do desânimo, do desdém. Quero falar de prefixos.

Quero falar do que vem antes, antes mesmo de começar a pensar sobre.E se é assim então, não quero falar de desamor, quero falar do pré-amor, quando não há nada ainda, nem vontade de entender.

Sou hoje o que escreve sobre essas pessoas que entraram aqui e saíram. Sou o que escreve sobre o que passa e ninguém nota. Sou hoje o que tenta enternizar o que não pode ser contado, enumerado, listado. Será que só eu percebo o quanto somos vazios? Será que só eu percebo o quanto somos prolixos e acabamos deixando para o final o que é mais importante?

E é assim que tem que ser: escrever sem revisar, sem voltar atrás, sem reler. Deixar que o pensamento organize;a linearidade é só uma arma para tornar tudo igual e hoje, hoje quero ser desigual, desunido, desnutrido de denotação.
E ao final, quando chegar o ponto que acaba, salvar e voltar para realidade nua e crua, com dicionários, googles e fluxogramas.

A vida é assim mesmo, é só segunda-feira. Dia chato e cinza - hoje particularmente é cinza mesmo, cheinho de nuvens de chuva.
E só segunda, amanhã passa, amanhã tudo fica colorido de novo.

Vou lá ler meu horóscopo, ele vai me dizer com tenho que ser hoje, e assim vou saber como começar.
Por isso escrevo antes, porque não sei ainda se estou de mal-humor ou se tenho que ter cuidado com as palavras. Não é horóscopo que deveria chamar, tinha mesmo é que ser 'manual'. Mas dever ser mais uma daquelas coisas que só percebo...
E não é que eu seja amargo, nem pense nisso! Ainda nem li meu horóscopo!!!