25 de nov. de 2008

Pão-com-rosca


- Ei, isso não tá bom não...

Eu tenho um problema. Um problema grande.
Simplesmente não consigo dar crédito a pessoas que não sabem combinar roupa e que não sabem escrever.
Mas não é uma implicância só não, é um ponto de corte mesmo.
Pode me chamar de fútil, de cruel, mas gente! Sou assim, oras...
Dá pra imaginar você chegando no cinema com uma pessoa que insiste em colocar um casaco xadrez por cima de uma blusa preta de bolinhas amarelas?
Ou responder qualquer coisa que seja pra uma pessoa que manda um torpedo com um "vem MIM encontrar?".
Não.
A gente fica anos numa faculdade, lê um monte de coisas, se esforça pra acompanhar o mínimo que seja da crise mundial e o cidadão não se dá o trabalho de decorar meia dúzia de pronomes? Francamente...
E com a roupa é a mesma coisa. A gente se dá o trabalho de olhar no espelho, de folhear uma revista decente e, o pior, fica horas garimpando na Renner pra achar alguma coisa legal quando a grana tá curta e aí chega num encontro e dá de cara com alguém que veste calça cargo bege com camiseta cinza. Dá não minha gente, dá não.

Não tô dizendo que a pessoa precisa ser altamente letrada ou fashionista. Só precisa ter o mínimo de noção.
Na dúvida, troque.
Um exemplo? Minha tia queria deixar um bilhete pro marido deixar a luz da cozinha acesa, mas ficou em dúvida na hora de escrever "acesa". Inteligentemente ela virou o papelzinho e mandou: "Não apague a luz". Brilhante!
Com a roupa é mais difícil, eu sei. Costumo chamar essas combinações esquisistas de pão-com-rosca. Porque? Alguém acha que pão combina com rosca? Não, né? Então...
Na dúvida, vá de camiseta preta e calça jeans.
Me faça esse favor.

14 de nov. de 2008

Topa?

Volta moleque, mas volta logo porque eu posso encher o saco. Pára com essa besteira de espiar de canto de olho porque eu olho, eu continuo olhando. Volta moleque, que sinto falta das tuas camisetas modernas, dos teus cachos rebeldes. Escreve pra mim meia dúzia daquelas letras que eu me derreto, juro que derreto.Volta moleque que sou capaz de escolher você, só você, e sou capaz de usar aquele nariz de palhaço, mas não pra sempre. É que já cansei de cortar caminho, cansei de falar baixo, de esticar o pescoço pra te achar. E eu tô puto porque apaguei seu nome do celular e aí fico achando que você pode ter feito o mesmo, porra, isso dói moleque. É que ensaiei tantos versos, roubei tanta flor e agora meu peito tá tão cheio deles que tô ficando sem ar e eu não sei por que não deságuo. Então você tem que voltar. Volta moleque. Não pensa muito não. Não pensa porque a vida é assim mesmo, a gente só precisa juntar a tua aquarela com meu pincel. E aí a gente pinta aquela praia pra gente correr, brincar de amor. Vem logo que perco até o medo de parecer ridículo. Volta moleque, pode voltar assim mesmo, não precisa decidir nada não. Posso ser seu psicólogo, sua academia, seu coral, me rouba logo porque posso ser o seu dia, inteiro, todos os seus dias. Mas volta logo, moleque, porque eu posso encher o saco.
Aí fudeu.


Tutti e Arisco

Quando eu era moleque, por volta dos 10 anos, ganhei dois pintinhos. Na verdade eu ganhei um e minha irmã, que devia ter uns 5 anos, ganhou outro.

Os danados dos bichinhos eram lindos demais! Me lembro até hoje do meu pai chegando em casa com uma caixa de sapatos toda furada e mostrando pra gente aquelas duas coisas amarelinhas encolhidas num canto da caixa!

Eles foram batizados de Tutti e Arisco, não me lembro bem o porquê.
A única coisa que lembro é que por um bom tempo aqueles dois pintinhos foram a diversão da casa. Até banho a gente dava. E eles eram super comportados.
Lembro que a gente colocava os dois bichinhos em cima do skate, amarrava um barbante e saía puxando pela rua! E eles ficavam ali, quietinhos, aqueles pintos educados.

O problema é que os pintos cresceram, obviamente.
E viraram dois frangos horríveis, de cor branca-amarelada, que fediam todo o terraço da minha casa (nessa época eles já se recusavam a tomar banho). E pra nós, eu e minha irmã, aqueles bichos medonhos nem de longe lembravam nossos pequenos e singelos pintinhos!

Até que um dia, voltando da escola, minha mãe nos deu a triste notícia de que Tutti e Arisco tinham fugido. “Eles saíram voando pela janela”, insistia a minha mãe. Não me lembro de ter chorado, mas a tristeza daquele dia eu recordo bem...
A nossa tristeza só diminuiu quando a minha mãe falou que, para compensar a perda dos bichinhos, ela tinha feito a nossa comida favorita: frango! E a gente aceitou feliz, comeu e lambeu os beiços!

Ai que saudade dos meus tempos de criança! A inocência ameniza tanto sofrimento...

(Só depois de muitos anos minha mãe teve coragem de dizer que naquele dia almoçamos o Tutti e o Arisco. Ela dizia que esperou o tempo necessário para que fôssemos maduros o suficiente para rir ao invés de chorar).

13 de nov. de 2008

12 de nov. de 2008

The shame is manifest in my resistance...

I would've warned you, but really, what's the point?
Caution could, but rarely ever helps
Don't be down when my demeanor tends to disappoint
It's hard enough even trying to be civil to myself




(Fiona Apple, "To your love")

11 de nov. de 2008

Rapunzel


Nunca entendi muito bem a história da Rapunzel...
Porque ela não usou a suas tranças pra fugir, por si só, do castelo onde estava apriosionada?

Mas agora entendo perfeitamente: a mocinha tinha era medo de enfrentar a realidade. Aprisionada ali, na sua torre, longe do mundo, ela estava imune a tudo e a todos. Assim, podia culpar a solidão e a bruxa por todos os seus fracassos.

Rapunzel preferia o seu castelo e o mundo que criou para si à aventurar-se pelo mundo real.

10 de nov. de 2008

Mosquinhas espertas!

Sabia que algumas espécies de insetos vivem somente 24 horas?

Agora, se esse bichinho tivesse um mínimo de consciência, imagina como seria a sua relação com o tempo!
Certamente ele não seria como nós, não dispensaria um segundo sequer de sua preciosa e efêmera vida.
Ele não passaria mais de dois segundos escolhendo o que comer, menos de um segundo escolhendo com quem conversar e duvido que passasse qualquer fração de segundo aturando o que lhe não lhe fizesse bem ou que não lhe trouxesse absurdo prazer.

Deve ser por isso que esse insetinho tão simpático dedica-se quase que exclusivamente a reproduzir-se durante suas longas 24 de horas de vida.

Ah, então me deixe ser essa mosquinha!
Não precisa de mais nada além de nascer, trepar e morrer.
Assim mesmo, nessa ordem.

(Tá certo, já li em algum lugar que os homens e os golfinhos são os dois únicos animais que fazem sexo por prazer, mas vá lá, não sou biólogo e portanto não preciso confirmar a minha teoria furada...)

7 de nov. de 2008

O que eu não sou...


"Eu não sou poeta, nem quero ser
A canção eu fiz pra sobreviver
Coração aperta, canto pra respirar
Toco minha viola pra poder sonhar

Eu não quero nada que faz doer
Quero amar o mundo, quero amar você
Quando você não está eu vou tocar tambor
Extraviar no pulso toda a minha dor

Um dia o amor acaba
Invade e a dor deságua
Transborda a minha alma
Vazia está agora

Eu não sou maluco nem quero ser
Mas a noite passar e eu não vou dormir
As flores me agradam tentam me colorir
Toco uma toada pra poder te ouvir

Eu não sou ateu nem quero ser
Deus te abençoe, rezo por você
Eu vou tocar a flauta pra despedir
De longe minha alma vai velar por ti

Um dia o amor acaba
Invade e a dor deságua
Transborda a minha alma
Vazia está agora"

(Música: O que eu não sou/Chicas)

6 de nov. de 2008

Mr. Clumsy

(Fonte imagem: Google)

Desde menino eu sempre fui mega atrapalhado.

Minha mãe dizia que era por eu ser canhoto, mas nunca acreditei muito nisso.


Já me estabaquei no chão nas Barcas, já perguntei de quantos meses estava uma mulher que só era gordinha, já falei mal de irmão de amigo pro próprio amigo, já entrei em carro errado esperando carona, já fui pra festa errada e só percebi duas horas depois, já quase quebrei a roleta do metrô porque ela, estranhamente, não aceitava o crachá da minha empresa, já comi em pizzaria chulé jurando que estava na Pizzaria Guanabara e já quase coloquei shoyo no suco de uva.

E eu ainda tenho outro defeito: esqueço o nome de tudo. Pessoas, lugares, músicas, filme. Meu telefone então, esse eu nunca sei.

Eu achava que com o tempo isso ia melhorar, mas não aconteceu. Pelo contrário, acho que só piora. Agora tô errando até as palavras: em vez de dizer o portão tá fechado, digo o “fechão tá portado”. E nem percebo!


Aí fui falar com a proprietária do meu apartamento que eu queria tirar o buffet do banheiro porque ele não servia pra nada, só ocupava espaço. Ela não entendeu, e eu tive que explicar: buffet, aquele negócio tipo vaso sanitário que a gente lava a bunda... Ela perguntou: bidê?

Era.

Era bidê.


Outra coisa muito maluca é a minha relação visão/audição. O problema é que tenho 5 graus de miopia e não vivo sem lentes de contato, nunca. E aí, quando eu tiro as lentes pra dormir ou pra qualquer outra coisa, além de cego eu fico completamente surdo. Vai entender...

Minha terapeuta diz que é porque o meu cérebro sempre está a mil por hora e aí eu não dou conta de verbalizar tudo, o que acaba causando essa tempestade verborrágica. Mas não sei não, ando meio desconfiado dela. Acho que é porque até hoje não sei se ela chama Andréia ou Adriana, sempre confundo esses nomes.


Um amigo natureba falou que eu devia comer mais banana, por conta do potássio, ia ajudar com as tais sinapses e tal, e que isso melhoraria a memória. Mas aí eu fui até o mercado e comprei uma dúzia delas. Só que comprei maçãs, eu jurava que era isso que meu amigo tinha recomendado...


Confesso que já tô me acostumando com essa loucura toda. E ando desenvolvendo técnicas ótimas pra não errar mais. Quando anoto um nome no celular, por exemplo, sempre coloco uma referência pra não confundir. Assim: André amigo Eduardo. Mas quem é Eduardo mesmo, meu Deus?!?!

E como não tem jeito, nem remédio, vou levando a vida assim mesmo.

5 de nov. de 2008

Distante das cercas de amor


(Inspirado na música "Tudo vai ficar bem", banda Cof Damu)



Lá no alto daquele monte, querido
Tem uma casa que poderia ter sido nossa
(ainda bem que você não me escolheu)
Porque a casa não quis sequer abrir as portas
Para o nosso caso entrar.

Antes que a fizéssemos ruir
(aquela casa que poderia ter sido nossa)
Tivemos certeza que era ele
(aquele sentimento que a gente nem soube o nome)
Quem deveria partir sem voltar mais.

“Ainda que nas tardes ela possa escutar
(em suas paredes o que ele a fez sofrer)
Não teve medo de deixar assim
O vento entrar
Pela janela de estar”

Tudo vai ficar bem.
Não existe fim.

4 de nov. de 2008

A dor que inspira



Nós não fomos ao cinema
Nós não jantamos juntos
Nunca tomamos um vinho
A gente não saiu pra dançar
Não fizemos aniversário de namoro
Não trocamos cartões
Não fizemos amor
(sonho conta?)
Não chegamos a dizer “eu te amo”
Não ousamos o “gosto de você”
Nem beijo a gente deu
Não andamos na Lagoa
Não tivemos um cachorro
Não viajamos juntos
Não nos prometemos nada
A gente não dormiu junto
A gente não acordou junto
E eu nem conheço seu corpo
Não nos falamos por telefone
Não tivemos apelidos carinhosos
A gente nunca se deu boa noite!
Não sei qual o seu cheiro
Não conheço seu mau humor
Nem brigas a gente teve
Tampouco reconciliações
Nós não vimos juntos um dia de chuva
Não fomos à praia
Não tomamos chopp
Não tivemos um único amigo em comum.

Agora me diz:
se nunca tive
porque dói tanto
agora que ainda
não tenho?

A linha invisível que nos separa

O que nos separa tem nome
O que nos uniu, não.
O tempo que me fez ser quase seu foi curto
O que levará para curar, não.
Os seus recuos, estes foram muitos
As tentativas, nenhuma.

E ai a gente, tortuosamente,
Acabou fazendo uma história
Que nasceu de um sonho
Mas sucumbiu à realidade.

Triste realidade.




Agora eu só tenho o seu nome
E uma dúzia de músicas
Mas eu já tive mais
Eu quase tive
Antes de deixar escapulir por entre os dedos.

Agora eu tenho só aquele sonho
E uma vaga lembrança do calor
Mas eu tive mais
Eu quase tive
Antes de ouvir você dizer que prefere manter-se acordado.

Agora eu tenho sua vontade de ver meu sorriso
E quase nada de força
Mas eu tive mais
Eu quase tive
Antes de você olhar meus olhos e não enxergar o fundo.

Agora tem essa linha invisível entre nós
E essa impermeabilidade forjada
Mas eu tive mais
Eu quase tive
Antes de entender que você não deseja mais que o “quase”.