24 de out. de 2008

Auto-ajuda




Hoje não há tédio nenhum, mesmo pra um domingo chuvoso.


Agora então, já quase no final do dia, onde a companhia é de meia dúzia de músicas emotivas, três latas de cerveja perdidas na geladeira e um maço de cigarros, há uma imensa paz pairando.
Estou completamente ciente de mim, como se tivesse acabado de sair da alta de uma terapia. Não há mais nó na garganta, não há mais pendências, pelo menos nenhuma comigo mesmo. Talvez ainda haja uma ou outra, é fato, mas essas me parecem perfeitamente resolvíveis, a curto ou a longo prazo, não importa.
E se me perguntarem, não há razão ou segredo algum pra isso.


Mas olhando agora, vejo que as pessoas insistem em se apegar aos fracassos, às tristezas e aos domingos chuvosos. Eu mesmo sou assim quase sempre.
Hoje não, hoje eu esqueci o celular de lado, desconectei a internet, fiquei comigo mesmo, vi fotos antigas, li o jornal inteirinho e senti cada segundo do dia.


A amiga querida ligou cedo, o amigo especial chorou no almoço, o jovenzinho promissor mandou torpedos sensacionais e eu acabei achando meu lugar no mundo.
Por quê? Porque hoje eu senti que quando a gente vive cada segundo, quando a gente se entrega ao presente e deixa de lado essa babaquice absurda de querer adivinhar o futuro, aí é que a gente vive. E olha que sou capricorniano!


A gente tem mania de atribuir nossas felicidades e infelicidades a outras pessoas. No trabalho sempre tem um sacana que quer puxar seu tapete, no amor tem sempre aquele insensível que não entende a grandeza do seu sentimento. Bobagem. Não há ninguém no mundo que nos sabote mais do que nós mesmos.
Pro amigo que chorou e pra mais um milhão de pessoas é essa a resposta: não há maré ruim, na maior parte das vezes é só tristeza forjada por nós mesmos pra justificar algumas coisas que queremos, mas não temos coragem de admitir. A gente vale muito mais do que divulga (eu sei, há exceções, não as desconsidero...).


Quando termina um relacionamento, por exemplo, a culpa é sempre do outro. Mas será que não é nossa mesmo?
No meu caso é. Eu é que fui burro em não perceber os sinais do outro, eu é que não quis enxergar a relação se evaporando e, quando o outro resolveu sinalizar, só aí eu gritei. Se tivesse gritado antes, nada disso teria acontecido.


De uma vez por todas é preciso compreender que a única coisa que nos acompanha durante toda a vida é nossa própria consciência. Só a ela devemos total fidelidade.
A gente passa tanto tempo tentando agradar aos outros, pedindo desculpas, mandando flores, comprando cartões de aniversário pros amigos, querendo parecer vencedor pra família.
E pra nós mesmos, o que fazemos? Quando é que pedimos desculpas a nós mesmos por termos nos machucado, por ter permitido se ferir pelos outros, por ter colocado outras pessoas em primeiro plano?


É preciso encarar de frente os domingos chuvosos, os sábados sozinhos, o telefone que não toca. Sorria disso, não chame de solidão, sinta, deixe o relógio passar, viva. Fique com você mesmo, se reconheça, se conheça.
É assim mesmo, é a vida, é a rotina, não há nada de errado comigo, não há nada de errado com ninguém. Somos só diferentes e viva a diversidade.
Amanhã você se apaixona de novo, amanhã você é reconhecido no trabalho, amanhã sua família vai fazer a maior propaganda das suas vitórias.
E depois de amanhã você leva um pé na bunda, começa a achar que ganha pouco pelo tanto que trabalha, ouve sua irmã te chamar de deslumbrado.
Mas os dias passam, sempre, é um ciclo, os livros de auto-ajuda têm razão! Mas só nesse aspecto, por favor.


No próximo sábado pode ser que o celular não pare de tocar, que todos os amigos queiram a sua presença, que surjam mil encontros e que você descubra um novo amor na banca de jornal em frente à sua casa. Pode ser que faça sol no domingo e que você vá a praia pela primeira vez com seu novo amor!
A gente só não pode desconsiderar os domingos chuvosos.


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