13 de mar. de 2007

Vestido branco


Eu pretendia ir àquela festa vestida para matar.
Não sabia ao certo porque. Talvez fosse por causa daquele fulaninho que havia me dado um fora há alguns dias, ou talvez por saber que daria de cara com minha atual arquiinimiga. Ou ainda pelos dois motivos.
Acordei cedo, e comecei por uma massagem relaxante. Depois salão: unhas, cabelo,depilação, tudo.
Agora era escolher um vestido fabuloso. Horas de shopping e ele estava lá, na vitrine e tenho certeza que vi meu nome escrito na etiqueta (provavelmente ele estava por cima do preço, que só reparei quando cheguei em casa!). Ele era branco, à altura dos joelhos, com uma rosa presa na alça esquerda. Valorizava o busto e as pernas, e eu nem precisei pensar muito.
Agora só faltavam as sandálias e a bolsa, porque tudo precisava ser novo, já que eu continuava cheia de idéias velhas.E foi mais fácil. Também brancas elas eram altíssimas e amarradas nas pernas. A bolsa era pequena, com detalhes em prata – Gucci, sem maiores detalhes. Não me atrevo a comentar o preço porque eu mesma fiz questão de ainda não fazer a conta.
Fui para casa, usei máscaras geladas para os olhos, descansei por algumas horas e as sete em ponto estava pronta.
Estonteante.
Uma maquiagem sóbria, os cabelos presos num rabo displicente e os lábios bem coloridos de rosa. Rímel, sombra, mais rímel e estava impecável.
Então uma chuva torrencial começou a cair.
Tive vontade de chorar, minha produção era toda alva, e isso não combinava com aquela água que estava carregando junto toda minha empolgação.
Alguns telefonemas depois soube que a festa seria num lugar fechado e pude sentir meus olhos brilhando de novo.
Decidi ir de táxi porque queria tomar alguns drinques. Entraria no carro, desceria na porta do local, entraria e pronto. Passaria no máximo trinta segundos exposta aquele dilúvio. Nada poderia acontecer.
Desci e acenei para o primeiro amarelo que vi e ele parou. Carregava uma imensa sombrinha que, sinceramente, dava um certo glamour a meu novo vestido.
Mas fui traída pela altura dos saltos. Antes de entrar no carro, algum buraco (que tenho certeza que estava ali de propósito!) me fez perder o equilíbrio e pronto. Não foram necessários trinta segundos, mas apenas três para que eu me esborrachasse no chão. E de branco meu vestido ficou marrom, minhas sandálias correram junto com a correnteza e minha maquiagem escorreu junto com qualquer possibilidade de sucesso.
Voltei arrasada pra casa.
Não sei porque, mas depois um estranho ânimo tomou conta de mim apesar da lama que ainda estava nas minhas pernas
Vesti um jeans qualquer, um scarpin preto, uma camiseta moderna. Refiz a maquiagem, abusei ainda mais do rímel, escolhi uma bolsa e fui.
Quando cheguei na festa senti-me feliz. As pessoas me perguntavam o porquê de eu estar tão radiante, eu mesma ainda não sabia. O tal fulaninho não tirava os olhos de mim, e ensaiou duas vezes uma cantada tão barata que tratei logo de cortar.
E quando achei que nada poderia ser melhor, eis que dou de cara com minha arquiinimiga, que usava, pasmem, o mesmo vestido que há algumas horas atrás me fizera sentir única. É fato que o vestido não lhe caíra nada mal (porque verdade seja dita, ela era belíssima...), mas ela estava apagada, sem graça, sem nada.
E de dentro do meu jeans eu me senti soberana naquela noite.
Agradeci à chuva.

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